Novo relatório sobre conflitos urbanos: </br> "Vi a minha cidade morrer"
Cinquenta milhões de pessoas atualmente suportam o fardo da guerra em cidades do mundo todo. No Oriente Médio, conflitos urbanos prolongados e altamente destrutivos devastam a região.
As guerras que estão dizimando as antigas cidades de Mossul, Sanaa e Aleppo provocaram o maior movimento de migrantes e refugiados desde a Segunda Guerra Mundial. Estima-se que 17 milhões de iraquianos, iemenitas e sírios tenham sido deslocados, muitos deles das cidades. Isso equivale a uma população quase duas vezes maior que a de Londres.
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Sami, 29 anos, fugiu de Aleppo para Damasco e depois para Beirute.
Somente na Síria, 11,5 milhões de pessoas – mais de três pessoas por minuto – deixaram as suas casas desde o início do confronto. Mais de seis milhões vivem em abrigos específicos ou com comunidades que as acolhem dentro do país, e mais de cinco milhões cruzaram as fronteiras.
São números impressionantes – mas contam apenas uma parte da história.
Escavadeiras e bombas
Durante séculos, a maioria das guerras foi travada em amplos campos de batalha, colocando frente a frente milhares de homens, grandes batalhões e armamentos pesados em campos abertos.
As cidades podiam ser sitiadas ou saqueadas, mas os combates raramente ocorriam nas ruas. Hoje, os conflitos armados são bem diferentes: os centros das cidades e as zonas residenciais tornaram-se os campos de batalha e as linhas de frente do nosso século. As guerras tomam conta das cidades, casas e vidas das pessoas comuns de um modo mais cruel do que jamais foi visto.
Assim como o mundo, o conflito se urbaniza.
Estima-se que 90% do crescimento urbano ocorrerá nos países em desenvolvimento, em cidades que já apresentam fragilidade. É cada vez mais frequente a condução das hostilidades em centros populacionais, uma tendência que deve continuar.
As partes beligerantes muitas vezes evitam confrontar o inimigo em espaços abertos, optando por se misturar entre a população civil. Para piorar a situação, os conflitos armados continuam sendo travados com sistemas de armas originalmente pensados para campos de batalha abertos. Assim, são os civis que geralmente sofrem mais com a situação.
"Encontramos o nosso carro transformado em carcaça e as nossas casas totalmente destruídas. Quatro combatentes tinham se explodido na nossa casa. Retiramos dois corpos para a rua. Toda a casa foi reduzida a escombros."
Mohammed, civil do oeste de Mossul.
Aleppo
Não há cifras exatas sobre o número de pessoas que morreram desde a eclosão da violência, em meados de 2012. Como consequência da guerra, Aleppo ganhou novas distinções: "Cidade mais perigosa do mundo", "Inferno na Terra" e "Stalingrado síria".
Em meio aos crescentes alertas das organizações humanitárias sobre a piora das condições de vida, a infraestrutura urbana – incluindo hospitais, escolas e redes de água e energia – continuou sendo atacada ao longo do conflito. Em 2015 e 2016, uma sequência de ataques contra hospitais e estabelecimentos de saúde matou médicos e pacientes, impedindo que a assistência à saúde necessária com urgência chegasse a milhares de pessoas.
Quando as guerras são travadas nas cidades, as obras de infraestrutura que permitem o funcionamento dos bairros são danificadas ou destruídas. Em Taiz, uma antiga cidade no oeste do Iêmen, 15 meses de cerco causaram praticamente o colapso da economia local. "Vimos pessoas revirando o lixo para comer porque não têm condições de conseguir alimentos", diz Nancy Hawad, do CICV. "Também vimos mulheres pegando e fervendo folhas de árvores para poderem servir uma sopa quente às crianças."
O presente relatório tem como objetivo oferecer um entendimento mais profundo sobre uma parte desse contexto, através das palavras de pessoas que o testemunharam e sobreviveram a ele. O desafio agora é como responder às complexas dinâmicas em jogo nesses conflitos urbanos.
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