Meu marido e eu não sabíamos para onde ir ou onde pedir ajuda. Apenas seguimos o fluxo de pessoas saindo a pé da Cidade de Marawi. Um ano depois do conflito, ainda não sabemos o que nos espera. Estou começando a sentir o peso disso tudo e confesso que tem vezes que quero desistir. Mas, pelo bem dos meus filhos, me esforço para ficar forte.
Terminamos nos escondendo, junto com outras 50 pessoas, em uma casa que ficava a somente 10 metros da nossa. Sabendo que não poderiam fugir para nenhum outro lugar, os meus pais voltaram para casa. Foi a última vez que os vi. Todas as vezes que avisam que corpos foram enviados para o capin (casa funerária), eu vou para lá. É como procurar alguma coisa que desapareceu e nunca conseguir encontrar. Isso é que dói.
Ensino inglês na Universidade Estatal de Mindanao em Marawi. Foi muito difícil dar aula porque às vezes as nossas vozes competiam com o barulho forte das explosões. De vez em quando, tínhamos que parar porque os nossos alunos ficavam muito chocados com as explosões para entender o que dizíamos. Foi um desafio para mim, mas estou contente que pudemos terminar o semestre.
Da nossa loja eu podia ver a comoção do lado de fora. Fiquei abalada vendo as pessoas correndo por segurança, parecendo confusas com o que acontecia ao redor delas. O meu marido e eu não saímos da cidade, pois tínhamos esperanças de que os combates terminariam logo. Ficamos acurralados durante dias, com muito pouca comida. Tínhamos que racionar junto com a água – limitando a uma refeição por dia. Agora que temos a chance de voltar para casa, vamos começar de novo.
A minha mulher Farhana deu à luz ao nosso filho menor no auge dos combates. Quando ela pariu o bebê, não recebemos nenhum apoio. Não podíamos pedir ajuda aos nossos parentes porque era difícil para eles chegarem aonde estávamos. Faz um mês que recebemos os artigos da ajuda. Ainda é muito duro porque os nossos filhos são muito pequenos e não temos renda.
Eles começaram a evacuar pacientes e funcionários do centro de saúde. Mas como enfermeiro de pronto-socorro, tínhamos a ordem de não abandonar o hospital. Seríamos nós que receberíamos os feridos. Foi assustador para mim, mas isso não me impediu de manter o centro funcionando no meio dos combates. É muito triste ver a sua própria cidade, um lugar bonito, virar cinzas.
Sou motorista do CICV. A Cidade de Marawi é a minha cidade natal. Depois dos primeiros três dias de combates, a minha família se recusou a sair de casa. Mas quando ficou claro que as hostilidades durariam mais tempo, eles finalmente decidiram buscar abrigo no centro de evacuação mais próximo. Apesar das minhas preocupações com a segurança da minha família e com a situação, ajudei a levar em segurança centenas de famílias para fora da cidade durante a crise. Sou muito grato que nada ruim aconteceu com eles.
Em 23 de maio de 2017, confrontos armados irromperam na Cidade de Marawi na província de Lanao del Sur, sul das Filipinas. Os moradores acharam que os enfrentamentos entre as tropas governamentais e os combatentes do IS Ranao seriam breves, mas terminaram se transformando em um conflito urbano altamente destrutivo que durou cinco meses. Mais de 300 mil pessoas fugiram das suas casas e viveram em abrigos durante esse período.
Embora algumas famílias começaram a reconstruir as suas vidas, estima-se que 230 mil ainda estão deslocadas – incluindo moradores das principais áreas afetadas. Outras continuam sem terem notícias dos seus entes queridos, sentindo muito a falta deles.
Estas pessoas contam histórias de fé, lutas, dor e esperanças, mas também de uma incrível resiliência das vítimas do conflito de Marawi.
Continuamos comprometidos com o apoio às pessoas que fugiram dos combates, procurando fazer ainda mais para preencher as lacunas da resposta inicial de recuperação, em coordenação com as autoridades e outras agências humanitárias.