Antecedentes
O CICV é uma organização internacional imparcial, neutra e independente cuja missão exclusivamente humanitária é proteger a vida e a dignidade das vítimas dos conflitos armados e de outras situações de violência, assim como prestar-lhes assistência. Nas situações de conflito, dirige e coordena as atividades internacionais de socorro do Movimento da Cruz Vermelha, procurando evitar o sofrimento mediante a promoção e o fortalecimento do direito e dos princípios humanitários universais. Nos países da região da América do Sul, o CICV trabalha por meio de sua Delegação Regional para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai fortalecendo as capacidades dos organismos competentes e serviços locais para responder às necessidades humanitárias das pessoas afetadas pela violência armada em contextos urbanos, incluindo familiares de pessoas desaparecidas.
No Brasil, o CICV identifica um contexto bastante complexo, ligado à violência armada e no qual coexistem múltiplas circunstâncias de desaparecimento, que são atuais e que tem se prolongado ao longo das últimas décadas por todo o território brasileiro, com várias diferenças regionais. O Brasil também apresenta o contexto do desaparecimento durante o regime militar - um contexto particular para o qual uma resposta específica foi iniciada pelas autoridades.
Para ambos os contextos de desaparecimento, o país apresenta legislações e algumas iniciativas do Poder Executivo e do Sistema de Justiça, demonstrando reconhecer esta realidade. De outro lado, também se observa o reconhecimento da necessidade de implementar estruturas e ações que consigam diagnosticar e responder com mais eficiência a esta problemática, incluindo o apoio às necessidades de saúde mental e bem-estar psicossocial de familiares de pessoas desaparecidas, promovendo a coordenação interinstitucional e a implementação efetiva das diretrizes estabelecidas pelas referidas leis.
O CICV oferece apoio técnico multidisciplinar às autoridades e organizações da sociedade civil para o aperfeiçoamento de mecanismos de busca, localização e identificação de pessoas desaparecidas, assim como para que sejam estabelecidos serviços de atenção integral aos seus familiares.
No âmbito de saúde mental e apoio psicossocial, o CICV oferece suporte técnico baseado em sua abordagem humanitária e na sua atuação neutra, imparcial e independente às autoridades e atores-chave na criação e/ou fortalecimento de respostas e fluxos de encaminhamento adequados às necessidades específicas de familiares de pessoas desaparecidas, bem como apoio direto à casos excepcionais.
A Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas
Constatando a necessidade de aperfeiçoar e ampliar a resposta ao fenômeno do desaparecimento, o Brasil tem adotado medidas relevantes no âmbito nacional e local.
No ano de 2019, foi promulgada a Lei Federal nº 13.812, que estabelece a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas (PNBPD) e cria o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas (CNPD). Em 2021, o Presidente da República editou o Decreto 10.622, instituindo o Comitê Gestor da PNBPD, designando a Secretaria Nacional de Segurança Pública como autoridade central federal para a PNBPD e responsável pelo Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas, entre outras disposições de regulamentação da Lei.
Segundo o art. 15, da Lei 13.812/2019, o poder público tem por objetivo implementar programas de atendimento psicossocial à família de pessoas desaparecidas.
O Ministério da Saúde organiza as ações pertinentes à PNBPD especialmente por meio do Departamento de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (DESMAD/SAES/MS) e da Coordenação-Geral de Prevenção às Condições Crônicas na APS do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (CGCOC/DEPPROS/SAPS/MS), uma vez que tanto a Atenção Primária à Saúde (APS) quanto os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são, territorialmente, porta aberta para acolhimento e acompanhamento do sofrimento psíquico das pessoas ligadas às desaparecidas, e compõe a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Sistema Único de Saúde (SUS).