Além das discussões técnicas, o encontro deste ano contou com uma oficina dedicada ao acolhimento de familiares de pessoas desaparecidas em momentos específicos da busca. A proposta é sensibilizar os profissionais sobre as necessidades dessas famílias e oferecer orientações para que o atendimento seja feito de forma mais acolhedora e adequada, especialmente nos momentos mais delicados desse processo.
A iniciativa é coordenada pelo programa de Saúde Mental e Apoio Psicossocial (SMAPS) do CICV, liderado por Renata Reali. Este trabalho surgiu a partir de demandas do Instituto Médico Legal de São Paulo e de estudos realizados com os próprios familiares de pessoas desaparecidas. Pela primeira vez, a oficina será realizada como uma formação de caráter nacional, ampliando seu alcance e fortalecendo a capacidade de acolhimento dos profissionais que atuam diretamente nesses casos.
Reali relata que os familiares de pessoas desaparecidas, ao buscarem respostas em delegacias e IMLs, frequentemente não se sentem acolhidos, o que intensifica sua angústia. "Essa população tem uma necessidade um pouco diferente. Claro que ninguém quer ir ao IML, não é um lugar acolhedor por si só. Muitos familiares vão ao IML sabendo o desfecho final de seu ente querido e, por mais sofrimento que a morte possa causar, eles têm uma resposta definida”, afirma Reali. “A situação do familiar de pessoa desaparecida é diferente. Eles chegam à unidade forense com medo da resposta que poderão receber sobre a sorte e o paradeiro de seu ente querido", explica.
Apesar dos desafios persistentes, como as desigualdades estruturais entre os estados, os organizadores do encontro reconhecem avanços significativos desde a primeira edição. Para Frederico Mamede do CICV, há hoje uma participação mais ativa dos órgãos forenses. “As discrepâncias estruturais são muito grandes, mas hoje temos certeza de que os estados estão muito mais sensibilizados, participativos e proativos”, afirma.
Já Reali destaca o interesse crescente na oficina de acolhimento como um sinal positivo: “Vejo com bons olhos quando alguns estados pedem para o CICV replicar a oficina. Isso mostra que estão abertos a falar sobre o tema e a reconhecer que é algo que pode ser aprimorado, uma vontade de oferecer um serviço melhor”.
A InterForensics segue até o dia 28 de agosto, reunindo mais de 2 mil profissionais da perícia oficial de natureza criminal, pesquisa científica, setor jurídico e indústria. Ao longo dos quatro dias de evento, os participantes têm acesso a oficinas, minicursos e um amplo espaço para troca de conhecimentos. O primeiro dia foi reservado exclusivamente para minicursos, enquanto os demais contam com conferências temáticas que abordam 17 áreas centrais das Ciências Forenses.
A edição 2025 é realizada no Via Soft Experience e é organizada pela Fundação Justiça pela Ciência, Escola Nacional de Perícias, Academia Brasileira de Ciências Forenses (ABCF) e Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF).