Honduras: os desafios de identificar as vítimas no incêndio no presídio de Comayagua
Após o incêndio que destruiu o presídio de Comayagua em Honduras no dia 14 de fevereiro, no qual mais de 360 pessoas morreram, o CICV vem apoiando os esforços das autoridades nacionais para identificar as vítimas usando a ciência forense e oferecendo apoio psicológico às famílias. Nesta entrevista, Alejandra Jiménez, assessora forense do CICV no México, descreve os desafios e as conquistas de sua missão em Honduras.
Como está a situação humanitária um mês depois do incêndio em Comayagua?
Devido a que houve muitas vítimas, muitos dos restos mortais estão irreconhecíveis e o processo de identificação é muito complicando e longo. Para as famílias que aguardam os corpos de seus entes queridos serem liberados de modo que possam homenageá-los e se despedir deles, a espera é extremamente angustiante. A principal consequência humanitária hoje é o impacto sobre os parentes que têm de esperar para começar o processo de luto.
Que tipo de apoio o CICV oferece?
Imediatamente depois do incêndio, a organização doou artigos essenciais para lidar com os restos mortais, incluindo sacos de cadáveres, instrumentos cirúrgicos, câmeras e papel FTA para identificação genética. No entanto, o CICV se concentra principalmente em prestar assessoria técnica ao governo hondurenho.
Dois psicólogos da organização prestam apoio psicossocial aos parentes e àqueles que responderam ao desastre. Três especialistas forenses ofereceram sua assistência e fizeram recomendações sobre que práticas adotar em diferentes estágios da resposta, da recuperação de corpos para entregar e o manejo dos restos mortais. O CICV não estava diretamente envolvido em lidar com os restos, mas ofereceu orientações às autoridades sobre como processar as informações das vítimas, preservar os corpos e pôr em prática procedimentos nas unidades forenses.
Como em muitas situações pós-desastres, o que faltava era um sistema de gestão de informações adequado. O CICV, portanto, doou uma base de dados que desenvolveu para organizar, gerenciar e consultar todas as informações recolhidas durante o processo de identificação. Também oferece treinamento para o uso dessa base de dados.
Como o apoio psicossocial foi organizado e qual era o papel do CICV?
O principal desafio nessas situações é a comunicação clara e transparente com as famílias das vítimas. Se as autoridades se mantiverem silenciosas e não se comunicarem com as famílias, isso cria uma barreira psicológica, como se estivessem sendo isolados de seus entes queridos e de todo o processo.
Esta sensação de ser mantido às cegas é extremamente estressante. No caso de Honduras, as famílias temiam que seus entes queridos fossem enterrados em covas coletivas ou que, sem a ajuda internacional, os corpos não fossem entregues a eles.
O CICV aconselhou tanto ao governo, como aos especialistas forenses sobre o estabelecimento de canais claros de comunicação com as famílias para explicar o que eles poderiam esperar sobre o processo, quanto tempo poderia tardar, suas limitações e as complexidades de identificar os restos mortais. O CICV também reforçou a importância de explicar os métodos forenses à imprensa, para conscientizá-la sobre o trabalho incessante e rigoroso que está sendo realizado e explicar como as informações estavam sendo processadas, desta maneira, tranquilizando as famílias.
Quais são os principais desafios hoje?
Temos de adotar uma abordagem a curto e a longo prazos. Precisamos manter nosso apoio e nosso diálogo com as famílias, cujos entes queridos ainda não foram identificados. É vital que todas as informações recolhidas durante a identificação dos restos mortais sejam introduzidas na base de dados que o CICV proporcionou. Uma análise completa desses dados precisa ser feita.
O CICV precisa levantar as expectativas que envolvem seu papel em Honduras, que, por sua vez, preparará o caminho para seu envolvimento na abordagem de problemas humanitários. O governo pediu ao Comitê para avaliar sua atual capacidade forense e seus serviços forenses em nível nacional de modo a fazer recomendações práticas.
A violência predomina em Honduras. Muitos corpos ainda aguardam identificação e, como consequência, muitas famílias estão ansiosas por receber notícias. Em circunstâncias como essas, o Comitê está disposto a cooperar com as autoridades e impulsionar o desenvolvimento forense com o objetivo de prestar assistência humanitária.