RD do Congo: projetos agrícolas que mantêm viva a esperança

07 janeiro 2015
RD do Congo: projetos agrícolas que mantêm viva a esperança
Kinyumba, Masisi, Kivu do Norte. Esther chega a casa com o seu pacote de mudas de mandioca. A vizinha dela, que recebeu o seu pacote mais cedo nesse dia, coloca as mudas de mandioca sob o sol para secar. CC BY-NC-ND/CICV/Christian Katsuva

Os recorrentes conflitos armados na República Democrática do Congo deixam milhares de pessoas na miséria ao privá-las de muitos dos recursos necessários para a sua sobrevivência. Por meio de projetos agrícolas, o CICV as ajuda a recuperar a autossuficiência e, finalmente, reconquistar a independência financeira.

"O CICV dá as vítimas de guerra e de outros tipos de violência uma oportunidade para produzir alimentos, em particular ao proporcionar-lhes as sementes e as ferramentas necessárias e vender parte da colheita de modo que elas possam gerar renda suficiente para cobrir as suas despesas", afirmou Christian Bosson, que coordena as atividades de segurança econômica do CICV no país.

Em janeiro, as comunidades rurais na província de Kivu do Norte colherão os primeiros resultados do que semearam em setembro, quando as chuvas e a temporada de plantação começaram. Esta colheita consistirá, sobretudo, de milho, feijão, amendoim e outros legumes cujas sementes foram fornecidas pelo CICV. As mudas de mandioca foram distribuídas ao mesmo tempo em que as sementes, mas a colheita acontecerá no final de 2015.

"Fugimos da nossa aldeia por causa do conflito", conta Faida, que tem três filhos. "Vivíamos do que plantávamos, mas a guerra nos obrigou a abandonar o que havíamos semeado. Além disso, não conseguíamos cultivar mandioca suficiente devido ao vírus do mosaico. Mas estou impressionada com o que vi nesse campo. Se essas plantas produzirem a mesma quantidade e qualidade nos nossos terrenos, poderemos colher o suficiente para mandar os nossos filhos à escola de novo". Faida é uma das pessoas que retornaram aos grupos Bapfuna e Bashali-Mokoto em Masisi, aos quais o CICV redistribuiu uma parte da produção das associações locais que receberam apoio como parte de um projeto agrícola na Kivu do Norte. Ela recebeu 50 mudas com talos de um metro de altura de mandioca de melhor qualidade.

Mulheres se cadastram com a equipe do CICV para receber depois as suas mudas de mandioca. CC BY-NC-ND/CICV/Christian Katsuva

Como Faida, muitas outras mulheres na Kivu do Norte estão recuperando a esperança. Como as duas variedades de mandioca distribuídas são resistentes ao vírus do mosaico, elas podem produzir mais tubérculos – em alguns casos, até quatro quilos por talo, o que é suficiente para alimentar quatro pessoas durante três dias. Para as famílias que vivem principalmente da agricultura e que acabam de retornar às suas aldeias depois de meses ou até mesmo anos de deslocamento, as mudas representam uma oportunidade para reativar as atividades agrícolas e começar de novo.

Para tornar a iniciativa mais eficiente, o CICV oferece treinamento em práticas agrícolas que otimizarão o tempo e a produtividade. A organização também faz um acompanhamento de duas formas diferentes: logo após a distribuição das sementes, o CICV confere se elas foram usadas. Além disso, no momento da colheita, a organização observa o volume da produção e o impacto sobre os lares em termos de quantidade de alimentos produzidos e renda gerada.

Um oficial agrícola do CICV no terreno se certifica de que as técnicas mostradas às associações locais para os cuidados e manutenção para as plantas de mandioca são acompanhadas. CC BY-NC-ND/CICV/Christian Katsuva

Na maior parte dos casos, os alimentos (feijão, milho, arroz, óleo de cozinha, sal, etc.) são distribuídos junto com as sementes. "Desta for a, a organização garante que as sementes não sejam comidas, já que as pessoas que estão recebendo a ajuda quase sempre estão em uma situação alimentar difícil", conta Bosson. "Ao dar-lhes alimentos, queremos garantir que elas realmente as usarão para plantar e que terão o suficiente para comer até o momento da colheita".

Para serem bem-sucedidos, os projetos agrícolas devem poder contar com uma determinada estabilidade – algo difícil de garantir no leste da República Democrática do Congo, que foi sacodida por conflitos em muitos anos. Esther, em Kinyumba, Kivu do Norte, continua preocupada: "Semeamos, mas não sabemos quando poderemos gozar dos frutos da nossa terra. Nos últimos anos, estivemos deslocados durante muito tempo e os nossos campos foram saqueados. Esperamos que esta pausa, que está durando mais do que as outras, se transforme em uma paz duradoura que nos permitirá levar o nosso dia a dia livremente".

De tempos em tempos, o CICV teve de suspender ou cancelar as distribuições de sementes devido às recorrentes preocupações com a segurança em algumas partes do país.

Em 2014, em conjunto com o apoio para a restauração da produção agrícola, o CICV forneceu sementes de milho, feijão, amendoim e de outros legumes a 215.530 pessoas, além de mudas de mandioca resistentes ao vírus do mosaico e ferramentas agrícolas. Para melhorar o sistema de colheita e aumentar a produção, o CICV também fornece recipientes e oferece treinamento em práticas e técnicas agrícolas para administrar açudes para a criação de peixes.

Mais informaçõest:
Patrick Megevand, CICV Kinshasa, tel: +243 81 700 85 36
Elodie Schindler, CICV Goma, tel: +243 81 700 77 86
Sylvie Pellet, CICV Bukavu, tel: +243 81 711 55 60
Andrea Drury, CICV Katanga, tel: +243 82 565 35 34
Thomas Glass, CICV Genebra, tel: +41 22 730 3149 ou +41 79 244 64 05