Quênia: resposta à violência pós-eleitoral
03-01-2008 Entrevista
Confrontos ocorridos no período pós-eleitoral no Quênia provocaram a morte de centenas de pessoas e o deslocamento de milhares de famílias de seus locais de origem. Pelo menos 300 mil destes deslocados chegaram à cidade de Eldoret com a reabertura das rodovias. Pascal Cuttat, chefe da delegação do CICV em Nairobi, explica como a organização está apoiando as atividades de distribuição de suprimentos feitas pela Cruz Vermelha do Quênia.
Qual a situação atual no Quênia?
Há problemas em muitas áreas do país, com confrontos generalizados. Os mais sérios episódios foram registrados em Rift Valley. Centenas de pessoas foram mortas e milhares, feridas. Em Rift Valley, centenas de milhares de moradores foram deslocadas pela violência. Há também a preocupação com a falta de acesso dos trabalhadores humanitários a muitas zonas afetadas. Por isso, nós não conseguimos ainda chegar a cifras exatas sobre o número de mortos e feridos. Há muitas pessoas que fo ram afetadas pela violência e que ainda não foram alcançadas por nenhuma organização.
Só para se ter uma idéia de como é difícil fazer um levantamento da situação, na última noite, foram reabertas algumas rodovias próximas a Eldoret, veio à cena o episódio do ataque à igreja, onde dezenas de pessoas foram mortas, e pelo menos 30 mil pessoas deslocadas entraram na cidade.
O que o CICV tem conseguido fazer para ajudar essas pessoas?
O CICV está trabalhando em cooperação intensa com a Sociedade Nacional da Cruz Vermelha do Quênia para dar uma resposta a esta situação. A organização forneceu um kit contendo suprimentos médicos suficientes para o tratamento de 50 pessoas logo no primeiro dia após o início dos enfrentamentos, além de ter colocado outros dois kits como este à disposição da Cruz Vermelha local no oeste do país. Um cirurgião do CICV foi ao hospital de Eldoret para ajudar no atendimento aos feridos. Trabalhando com médicos locais, ele realizou operações em alguns dos feridos e ajudou as autoridades locais a reorganizar os serviços de emergência de forma a poder lhe dar com a crise. O CICV também enviou cinco caminhões para Eldoret para ajudar na distribuição de itens alimentícios e não-alimentícios feita pela Cruz Vermelha do Quênia.
Qual assistência adicional está sendo planejada?
Estamos trabalhando muito de perto com a Cruz Vermelha local para determinar as necessidades e a melhor forma de responder a elas. Nós sinalizamos que estamos prontos para ajudar com assistência alimentar e não-alimentar às pessoas deslocadas, como também na distribuição de suprimentos médicos para as instalaçõe s de saúde que estejam recebendo os feridos. O CICV também ofereceu suporte logístico para a Cruz Vermelha do Quênia, na forma de veículos, além do próprio conhecimento da organização na manutenção de pontos de fornecimento de água e de saneamento. Também daremos apoio a atividades de busca, já que já milhares de famílias deslocadas que devem ter perdido contato com seus parentes.
Quais são as prioridades a médio e a longo prazos?
Neste momento, a assistência médica é a prioridade. No longo prazo, nós sabemos que há centenas de milhares de pessoas afetadas pela violência. Muitas destas pessoas tiveram que deixar suas casas, abandonando seus pertences. Eles, literalmente, correram para salvar suas vidas. Mesmo que a situação se normalize nos próximos dias, estas pessoas ainda vão precisar de assistência por meses, já que perderam suas casas, seus pertences, seus rebanhos e seus mantimentos. Nós estaremos juntos da Cruz Vermelha do Quênia trabalhando para recuperar estas vidas.