Atingidos pela violência comunitária e desnutrição em Tanganica, República Democrática do Congo

03 janeiro 2018
Atingidos pela violência comunitária e desnutrição em Tanganica, República Democrática do Congo
Mukalay Mangasa e o filho tiveram que andar 10 quilômetros até o centro de saúde mais próximo para receber tratamento. CC BY-NC-ND / CICV / Birom Seck

A situação humanitária continua deteriorando de forma dramática na província de Tanganica no sudeste da República Democrática do Congo (RDC). Segundo a Organização das Nações Unidas, desde que a crise começou, mais de 650 mil pessoas foram obrigadas a fugir dos confrontos violentos entre os batwas (também conhecidos como pigmeus) e os bantos (principalmente do grupo étnico luba). Distantes dos seus povoados e dos seus meios tradicionais de subsistência, milhares de famílias enfrentam uma escassez crítica de alimentos cada vez maior.

"Caminhamos durante muito tempo sem nada para comer. Hoje, continuamos sem comida suficiente", conta Kyungu Mayaula. Com as suas duas mulheres e 12 filhos, Kyungu andou mais de 50 quilômetros no território de Manono, no sul de Tanganica, para escapar da sangrenta violência comunitária. Sem meios para satisfazer as necessidades básicas da sua família, ele foi obrigado a assumir cada vez mais riscos para a sobrevivência de todos. "O meu braço direito está fraturado e machuquei a coluna depois de cair de uma palmeira", explica. Apesar das condições de vida precárias, Kyungu prefere ficar com a família que o acolhe, assim como as esposas e os filhos, afirmando "Não quero voltar. Tenho medo que a violência comece de novo."

Com um braço quebrado e sem poder trabalhar para sustentar a família, Kyungu vê a sua pobreza aumentar diariamente. CC BY-NC-ND / CICV / Birom Seck

Entre dezembro de 2016 e fevereiro de 2017, a violência entre os batwas e os bantos escalou repentinamente. Os confrontos extremamente brutais entre os grupos, armados com machados e machetes, tiveram consequências muito graves para as pessoas de todas as etnias na população local: muitas foram mortas, feridas ou traumatizadas, povoados foram queimados e campos destruído e houve um deslocamento em massa da população.

Os efeitos dessa erupção de violência ainda podem ser sentidos atualmente. A situação permanece volátil e pode voltar a se agravar a qualquer momento, impedindo que os deslocados retornem aos seus povoados e vivam uma vida normal. "Tendo como pano de fundo uma crise alimentar que piora gradativamente, as atuais tensões entre as duas comunidades são muito preocupantes", diz o chefe da subdelegação na região, Sébastien Sujobert. Ele acrescenta que "as nossas equipes identificaram e trataram muitos casos de desnutrição grave. O Dr. Bernard Mundembo, médico-chefe do Hospital Geral de Manono, confirma. "Vemos com frequência pessoas desnutridas. São sempre casos urgentes."

Mulheres, crianças e idosos são os principais afetados por essa situação. Mukalay Mangasa, mãe de oito crianças que estão gravemente desnutridas, perdeu o marido durante a última erupção da violência comunitária. "Depois da morte do meu marido, meus filhos e eu não tínhamos nada para comer e ficamos doente", explica. "O nosso sofrimento continua. Um dos meus filhos morreu. Perdi peso por causa disso e da preocupação. Todos os dias sofremos mais um pouco."

Província de Tanganica, Rep. Dem. do Congo

O CICV está muito preocupado com esta crise. Oferecemos atendimento hospitalar gratuito para os deslocados no Hospital Geral de Manono e temos uma clínica móvel que vai até os povoados mais afetados para tratar os doentes em meio às vítimas da violência, independente da sua etnia. Até agora, realizamos quase 7 mil consultas. Também apoiamos os centros de saúde na região com reformas de prédios e doação de mobília, remédios e equipamento médico.

Instamos as autoridades locais, provinciais e nacionais a tomar as medidas necessárias para acalmar as tensões entre as comunidades, assegurando-se que as vítimas da violência sejam protegidas.

Atualmente, as duas comunidades ainda se veem com medo e desconfiança. Mukalay Emmanual voltou para o seu povoado apenas para encontrar campos devastados e casas saqueadas. "Vivemos com medo. Não há reconciliação à vista", diz.
Simba Mpuku, líder do povoado de Sailoma, conclui "Tenho medo porque sei que quando cruzo com uma cobra, em nenhum lugar diz que não a encontrarei pela segunda vez."

"A guerra nunca constrói, apenas destrói! " diz Mukalay Emmanuel, falando sobre a violência comunitária. CC BY-NC-ND / CICV / Birom Seck