Artigo

Azerbaijão: manter a memória dos entes queridos desaparecidos

Meu nome é Amalya Yolchiyeva. Meu irmão, Pashayev Pasha, desapareceu em 24 de abril de 1994. Eu tinha apenas 12 anos na época, mas ainda me lembro claramente como minha família iniciou uma longa e dolorosa busca por ele.

Eu não podia aceitar nem entender como uma pessoa podia simplesmente desaparecer – especialmente alguém que era tão próximo e querido! Mas eu precisava continuar vivendo para apoiar a família deixada para trás e manter viva a memória do meu irmão.

Um dia, recebi um telefonema do CICV convidando-me para um encontro. Eles me explicaram que os familiares de outras pessoas desaparecidas estariam lá também.

Compareci com hesitação e esperança, pensando que poderia ter notícias do meu irmão. Quando entrei na sala, fiquei espantada ao ver tantas pessoas com o mesmo problema que eu. Quando começamos a nos conhecer e a compartilhar nossas histórias, eu me senti muito aliviada por ser compreendida. Logo me tornei uma participante ativa nessas reuniões, que me ajudaram a conhecer mais gente.

Um dia, um oficial do programa me pediu que ficasse lá após o encontro – eles queriam que eu fizesse parte do programa para ajudar os demais.

Apoio às famílias dos desaparecidos

Fui convidada a realizar um treinamento especial, onde recebemos mais informações sobre a organização e capacitação sobre o impacto dessa perda ambígua. Também recebemos ferramentas básicas de acompanhamento para ajudar as pessoas a enfrentar e superar as dificuldades que famílias como a nossa enfrentam.

Meu verdadeiro trabalho como "acompanhante" começou em julho de 2014.

Não esquecerei nenhuma das histórias que as famílias me contaram. Algumas pessoas me aceitaram imediatamente como se fosse um parente. Mas para conquistar o respeito de outras, como Garibova Sadiga, precisei de mais tempo e esforço – sua dor fez com que ela praticamente "se desligasse" do mundo.

O filho de Sadiga, Zaur, desapareceu em 1994, como meu irmão. Ela tem outros três filhos, mas sempre se sentiu mais próxima dele que dos demais. A primeira visita foi a mais difícil. Foi como nosso encontro não tivesse nenhum significado para ela. Não mostrou nenhum interesse no que eu lhe dizia, mal assentindo com a cabeça em sinal de resposta. Ao vê-la tão triste e isolada da sociedade, decidi acompanhar o seu caso e lhe pedi permissão para visitá-la de novo. Fiquei surpresa quando ela aceitou – foi uma grande conquista para mim!

Outra surpresa me aguardava quando a visitei de novo. Encontrei uma pessoa totalmente diferente. Descobri como era seu sorriso, que eu nem poderia ter imaginado. Ela me contou a longa história sobre o que aconteceu com a sua família após o desaparecimento de Zaur. O pai do jovem ficou exausto com a busca infrutífera e adoeceu gravemente. Hoje, está confinado na cama e sofre de diabete há 14 anos; foi preciso amputar os dedos dos seus pés.

Sadiga fica em casa o dia todo cuidando do marido. Não o deixa nem por uns minutos. Sabe que ela também estaria gravemente doente se não fosse por suas filhas. As duas estão casadas e morando com suas próprias famílias. Quando o marido de Sadiga ficou de cama, as filhas tentaram convencer a mãe de que ela precisa se cuidar para poder apoiar o pai delas. Isso a ajudou a se tornar mais forte.

Ela terminou sua história dizendo: "Agora estou cuidando do meu marido, e nosso filho está cuidando de nós dois." Fiquei surpresa quando vi o que ela queria dizer.

Ela me mostrou o casaco do filho desaparecido. O casaco era obviamente velho, mas conservado com carinho pela mãe e pendurado no corredor da casa. Mas essa não era a sua única forma de lembrança.

"Sempre que recebemos nossas pensões, coloco o dinheiro no bolso do casaco do meu filho. Isso me ajuda a acreditar que ele está vivo e cuida da mãe e do pai doente", explica Sadiga. "Tenho colocado dinheiro durante anos no bolso do casaco do meu filho, e ao fazer isso eu sinto a sua presença."