Declaração do presidente do CICV Peter Maurer

24 maio 2017
Declaração do presidente do CICV Peter Maurer
CC BY-NC-ND / CICV

Esta é a minha quinta visita à Síria, e, toda vez que venho, vejo mais sofrimento. Quase metade da população foi deslocada e todos estão exaustos por causa do conflito. As necessidades humanitárias são imensas e estas, em algumas regiões do país ainda afetadas pelos combates, estão crescendo vertiginosamente.

Isso acontece especialmente nos lugares de difícil acesso ou para as pessoas que vivem sitiadas. A irregularidade da ajuda expõe essas populações a riscos, incluindo desnutrição, água não tratada ou assistência à saúde inadequada.

Acima de tudo, é evidente para mim que, mesmo se o conflito terminar amanhã, a assistência humanitária será assustadoramente necessária.

Reuni-me esta manhã com o presidente Bashar al-Assad e conversamos sobre as necessidades humanitárias. Ressaltei a minha vontade de ampliar ainda mais o acesso do CICV aos civis e detidos, enfatizando que é preciso que todos os lados no conflito facilitem mais o nosso trabalho no terreno. Junto com o Crescente Vermelho Árabe Sírio, estamos a postos para aumentar as nossas operações humanitárias neutras.

Estamos prontos para incrementar a distribuição de ajuda vital, mas o acesso é absolutamente crítico. Não podemos ajudar as pessoas que não podemos alcançar.

Sinto-me encorajado pelo progresso gradual que fizemos na prestação de assistência através das linhas de frente. Em 2016, realizamos oito vezes mais operações atravessando as linhas de conflito que em 2015 e, desde o início do ano, distribuímos ajuda em dezenove operações desse tipo. Podemos fazer isso graças ao nosso diálogo honesto e direto com todas as partes do conflito. Mas precisamos transformar a ajuda em condições consistentemente melhores para a população.

Hoje à tarde, vou visitar pessoas que estão tentando sobreviver em condições extremamente difíceis. São comunidades que vivem sem acesso seguro à água, são famílias deslocadas das suas casas e longe das pessoas queridas.

Exatamente como me lembro da minha última visita, são os civis sírios que mais sofrem com este conflito.

Respeitar o Direito Internacional Humanitário (DIH) e permitir o acesso é salvar vidas e aliviar o sofrimento de milhões de pessoas. Porém, estou preocupado com a maneira em que as hostilidades são conduzidas por todas as partes na Síria: ataques contra a assistência à saúde, uso de armas explosivas em áreas densamente povoadas e uso de táticas restritivas como os cercos. As normas da guerra – acordadas pelos próprios Estados para salvar vidas – devem ser levadas em consideração quando as decisões militares são tomadas.

Uma solução política é essencial para acabar com o sofrimento, mas isso não pode desviar a atenção das necessidades dos civis hoje. A ajuda deve estar separada do processo político e este não deve significar que os olhos do mundo não vejam mais o sofrimento da população síria.