Desaparecidos em Uganda: aferrando-se à esperança

  • Alice Acayo, 42 anos
    Alice Acayo, 42 anos
    Em 2003, Geoffrey Orenga, meu filho de 12 anos, desapareceu. Esperamos há tanto tempo e quase perdemos a esperança de que ele volte. Esta é a cabra dele. Cuido bem dela. Mesmo quando não tenho nada para comer, garanto a comida dela.” Povoado Central de Pawena, Distrito de Lamwo, Uganda.
    CC BY-NC-ND / CICV / Martina Bacigalupo
  • Ammon Abwaye, 73 anos
    Ammon Abwaye, 73 anos
    Meu filho Ventorino Oola desapareceu aos 20 anos durante o conflito no norte de Uganda. Muitas pessoas voltaram, mas ele não, por isso me sinto sem esperanças agora. Preciso saber a verdade, mesmo que ele tenha morrido, porque na nossa tradição é importante fazer um funeral. Homens armados queimaram tudo, não tenho nada que era dele, apenas esta casa, que ele mesmo construiu. Durmo nela e cuido dela. Me faz lembrar dele.” Povoado de Kabete, Subcondado de Mukwini, Distrito de Kitgum, Norte de Uganda.
    CC BY-NC-ND / CICV / Martina Bacigalupo
  • Francis Opira, 46 anos
    Francis Opira, 46 anos
    Em 1997, meu pai foi morto. Em 2002, meu irmão David Ocen, de 17 anos, desapareceu. Estou esperando que ele volte. O único que tenho dele agora é o arco e flecha que ele usava para caçar animais selvagens. Ocen era muito bom nisso.” Povoado de Alimo Tiko, Subcondado de Palabek Pal, Distrito de Lamwo, Uganda.
  • Martin e Victoria.
    Martin e Victoria.
    “Tínhamos 4 filhos. Os dois mais velhos, Olot e Odoch, desapareceram há 20 anos e os outros dois morreram muito jovens. Não temos nenhuma esperança de que nossos filhos voltem para casa. Já faz tanto tempo. Não temos nada que nos faça lembrar deles, eram muito jovens para terem objetos pessoais. Mas quando vejo a mim e a minha mulher e as condições de miséria em que vivemos, penso neles, porque sei que se estivessem aqui não estaríamos nesta situação.” Povoado de Layamo. Subcondado de Palabek Gem, Distrito de Lamwo, Uganda.
    CC BY-NC-ND / CICV / Martina Bacigalupo
  • John Atoya, 71 anos
    John Atoya, 71 anos
    Um dia, meu filho David, de 27 anos, pegou a minha bicicleta e foi vender a bebida que fabricamos na cidade de Kirgum. Infelizmente, ele nunca voltou da feira. Às vezes acho que ele ainda está vivo, mas penso que se fosse verdade ele voltaria. A única coisa que guardei do meu filho é o colchão dele, usado agora por outros membros da família, e os restos da bicicleta que ele pedalava quando foi sequestrado.” Povoado de Liri, Subcondado de Palabek Kal, Distrito de Lamwo
    CC BY-NC-ND / CICV / Martina Bacigalupo
  • Justo Okot, 72 anos.
    Justo Okot, 72 anos.
    Charlie era meu filho primogênito. Ele desapareceu em 1998. Senti que meu coração sangrava e todos ficamos doentes na família. Até hoje tenho uma dor forte no meu coração. Não recebo notícias dele desde então. Não sei se mantenho a esperança ou não. Esta bolsa é de Charlie. Guardo como lembrança. O dia que eu souber que ele está morto, vou levá-la para a família da minha esposa e vamos dividir a dor, levando o espírito de Charlie de volta para casa. Somente a partir desse momento que vamos poder usar a bolsa de novo.” Povoado de Lamuku, Subcondado de Layamo, Distrito de Kitgum, Norte de Uganda.
    CC BY-NC-ND / CICV / Martina Bacigalupo
  • Odira Marco, 72 anos.
    Odira Marco, 72 anos.
    Em 1995-1996, vivia com a família em um povoado chamado Kampala, mas a situação era caótica e instável. Um dia mandamos a nossa filha Beatrice Lalam à feira comprar mandioca. Esperamos em vão naquele dia que ela voltasse para casa. Minha mulher e eu não comemos durante 7 dias. Vivo com um coração que sangra. A única lembrança que tenho dela é este pote que ela usava para fazer cerveja para pagar a escola.” Povoado de Akado, Subcondado de Akwang, Distrito de Kitgum, Norte de Uganda.
    CC BY-NC-ND / CICV / Martina Bacigalupo
28 agosto 2017

Quando as pessoas desaparecem, famílias, comunidades e sociedades inteiras sentem uma dor inimaginável. Embora os números sejam difíceis de quantificar, cada vez mais pessoas são dadas como desaparecidas. É evidente que este problema afeta praticamente todos os países, não somente os que estão em guerra.

Em Uganda, estas famílias vivem apenas com as lembranças dos seus entes queridos desaparecidos através dos objetos pessoais que ficaram para trás. A maioria ainda espera a volta dos seus familiares ou um desfecho para a situação. Saber o que aconteceu com as pessoas desaparecidas é, antes de mais nada, um ato humanitário.