Dez anos depois da independência, Sudão do Sul lida com cicatrizes da violência

Dez anos depois da independência, Sudão do Sul lida com cicatrizes da violência

Juba (CICV) - Durante a maior parte da sua primeira década de existência como Estado, o povo do Sudão do Sul foi afetado pela devastação causada pelo conflito e pela violência armada.
Comunicado de imprensa 05 julho 2021 Sudão do Sul

Como evidência da escala da violência, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) prestou atendimento cirúrgico a mais de nove mil pacientes feridos por armas desde o nascimento do mais novo país do mundo, em julho de 2011. Em 2020, mulheres e crianças representavam quase um quarto dos pacientes tratados pelo CICV.

Um sistema de saúde frágil, que foi ainda mais enfraquecido ou destruído pela violência, é apenas uma das consequências trágicas da crise prolongada no Sudão do Sul. Falta de comida, deslocamentos persistenetes e repetidos e perda ou separação de entes queridos são algumas das tristes realidades que as pessoas continuam enfrentando.

Em geral, os pacientes feridos por arma de fogo requerem um tratamento complexo e demorado, que vai além do atendimento cirúrgico imediato. "Esses pacientes precisam de reabilitação física para recuperar a mobilidade. Como muitas outras vítimas de conflito e violência, também precisam de apoio em termos de saúde mental. Mas a triste verdade é que a maioria dos sul-sudaneses não tem acesso nem aos serviços de saúde mais básicos, muito menos a cuidados especializados", declarou a supervisora dos programas de saúde do CICV no Sudão do Sul, Ana Lúcia Bueno.

Em áreas remotas do Sudão do Sul, pessoas morrem de doenças que poderiam ser evitadas e tratadas, pois o acesso à assistência básica à saúde ainda é difícil.

Não temos hospitais aqui. Acabamos de perder uma criança na casa ao lado da nossa. Ela ficou muito doente e morreu na mata a caminho do hospital mais próximo

contou Daniel*, um líder comunitário no estado de Equatoria Ocidental, onde famílias foram deslocadas pelo conflito em curso.

De acordo com dados do Banco Mundial, nove por cento das crianças no Sudão do Sul morrem antes de completar cinco anos de idade. Muitas pessoas precisam caminhar durante muitas horas — às vezes dias — para chegar ao profissional de saúde mais próximo, já que apenas 40% dos centros de saúde no Sudão do Sul continuam funcionando. Os ataques contra os profissionais e estabelecimentos de saúde, assim como o número limitado de profissionais nessa área, são alguns dos fatores que contribuíram para esta situação dramática. Nos últimos dez anos, o CICV realizou quase 1,5 milhão de consultas nos centros de saúde primários que apoiou.

Cerca de um em cada três sul-sudaneses são deslocados das suas casas e muitos perderam os seus meios de subsistência e a capacidade de sustentar as suas famílias. Para ajudar as famílias a lidarem com essa situação e reconstruírem os seus meios de subsistência, na última década, o CICV, junto com a Cruz Vermelha do Sudão do Sul, distribuiu alimentos para mais de 3,3 milhões de pessoas, vacinou mais de 5,2 milhões de cabeças de gado e distribuiu sementes e ferramentas agrícolas para mais de 3 milhões pessoas. Facilitou 130 mil telefonemas para pessoas separadas das suas famílias, registrou mais de 6 mil pessoas desaparecidas e ajudou a esclarecer o paradeiro de quase 3 mil pessoas desaparecidas.

"Os choques climáticos e a Covid-19 fazem com que seja ainda mais difícil para as comunidades que passaram por um enorme sofrimento restaurarem a sua dignidade e se sustentarem. Os passos em direção à paz precisam se consolidar em estabilidade e segurança duradouras para que as famílias devastadas pelo conflito e pela violência armada possam moldar o seu próprio futuro

afirmou o chefe da delegação do CICV no Sudão do Sul, Julien Lerisson.

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Alyona Synenko, Nairobi, +254 716 987 265, asynenko@icrc.org