A minha visita à Síria esta semana reforço o meu ponto de vista de que as guerras em toda essa região chegaram a uma assustadora nova normalidade. As batalhas olho por olho de represália aumentaram sem considerarem o impacto devastador sobre os civis.
O nível de sofrimento em Ghouta Oriental é o exemplo mais recente, somando-se a Afrin e Mossul, Sanaa e Taiz. Com muita frequência a destruição parece ser o objetivo já que os padrões básicos de humanidade são ignorados.
Esta semana, a crise na Síria entrou no seu oitavo ano. Quanto tempo mais as potências por trás dos confrontos permitirão que esse conflito se arraste? Uma guerra de vingança é uma guerra sem fim; o todos perdem nessa guerra.
Quando visitei o país há dez meses, havia sinais de esperança. A reabilitação e o retorno eram possíveis. Hoje, no entanto, a situação se degradou muito.
Que esperança existe para as crianças que veem as suas famílias serem destruídas e as atrocidades que são cometidas? Que esperança há para o menino que conheci no campo de deslocamento que não vai à escola há anos?
O conflito na Síria se caracterizou por violações regulares ao Direito Internacional Humanitário (DIH): cercos, barricadas, ataques desproporcionais em áreas urbanas e civis e serviços civis, como ambulâncias, estações de tratamento de água e mercados sendo alvos.
Essas são táticas não somente que se veem na Síria, mas em toda a região: o jogo geopolítico que brinca com as vidas humanas. Nas últimas semanas, viajei por todo o Oriente Médio para ver o custo humano dos métodos de guerra indiscriminados.
As pessoas que conheci estão exaustas. Exaustas de bombas e foguetes que came sobre bairros civis. Exaustas de não saber onde estão os familiares desaparecidos ou detidos.
Eu mesmo, junto com muitos profissionais humanitários no terreno, estou exausto e cansado de justificações cegas para grandes violações contra os civis. As vidas humanas têm o mesmo valor: o mesmo em Ghouta que em Damasco; em Alepo que em Mossul; na Síria que no Iêmen. O sofrimento é exacerbado por uma situação.na qual profissionais humanitários não têm permissão para desempenhar os seus trabalhos. A ajuda humanitária não é uma bola de futebol política e não deve ser parte de um processo político.
Essas três questões cruciais – o acesso humanitário, a proteção dos civis e o tratamento humanos dos detidos – não entram na categoria "bom tê-los"; eles são uma obrigação moral e legal.
A síria é uma das maiores e mais complexas operações no mundo. Os nossos anos de experiência aqui nos deram uma compreensão sólida do que os civis precisam. Enquanto os foguetes continuarem caindo sobre Ghouta Oriental e Damasco, enquanto os enfrentamentos continuarem em Afrin, enquanto milhões de pessoas continuarem deslocadas, o CICV faz um apelo para que:
- Respeitem as Convenções de Genebra e respeitarem os civis e a infraestrutura civil;
- Permitam acesso desimpedido entre as linhas de frente para que a ajuda humanitária chegue às populações afetadas sem exceção;
- Permitam o acesso a todas as pessoas detidas com o objetivo de monitorar se as condições de tratamento que recebem são humanas;
- Qualquer pessoas que venda armas que poderiam ser usadas em uma violação ao DIH deixem de fazê-lo. A responsabilidade de um comportamento legítimo no campo de batalhas recai sobre os combatentes e os comandantes; no entanto, aqueles que fornecem armas também são considerados responsáveis.
- Quanto aos retornos e à migração, as pessoas deveriam retornar às suas casas somente se a situação de segurança for estável e se optarem por fazê-lo.
Nos últimos sete anos, os confrontos acarretaram um custo humano imenso:
- Centenas de milhares de pessoas mortas e feridas
- 6,milhões de pessoas deslocadas internamente
- 4 de 5 pessoas vivem na pobreza
- 13 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária, incluindo 6 milhões de crianças
- 1,75 milhões de crianças estão for a das escolas
- 2,9 milhões de pessoas vivem em áreas sitiadas e de difícil acesso
Mais informações:
Ralph El Hage, CICV Amã, tel.: +962 7 7845 4382
Matthew Morris, CICV Londres, tel.: +44 7753 80 94 71
Iolanda Jaquemet, CICV Genebra, tel.: +41 79 447 37 26