O impacto na saúde mental e no bem-estar psicossocial das pessoas que atravessam os combates recentes é uma das principais consequências de cada nova rodada deste prolongado conflito armado. Nas zonas de conflito, uma em cada cinco pessoas enfrenta problemas de saúde mental depois do fim do conflito. Nos últimos 14 meses, e desde o final da escalada de 10 dias ocorrida em maio de 2021, pessoas de ambos os lados da cerca de Gaza ficaram com uma sensação de nervosismo e incerteza. É como se todos estivessem em uma grande sala de espera, entre as escaladas, antes que a próxima e inevitável tragédia chegue.
Eu estive em Gaza no ano passado. Parei ao lado de uma pilha de escombros que Jamal e sua família chamavam de casa antes da escalada de maio de 2021. Sem ter onde morar e com medo, eles enfrentavam um futuro incerto, assim como inúmeras outras pessoas cujas vidas foram consumidas pelas consequências da ocupação militar mais longa da história moderna.
Com o passar dos anos, a fadiga e a frustração se instalaram, particularmente entre as gerações mais jovens. Sua profunda desesperança e a incapacidade de ver um futuro melhor me preocupam muito, porque todos nós contamos com esses jovens para traçar um rumo melhor. Com a atenção internacional voltada para a Ucrânia, as persistentes consequências da Covid-19, as pressões da mudança do clima e as reverberações da inflação alta no custo de vida diário das comunidades, coletivamente, estamos fazendo pouco para aliviar seu sofrimento.
O Direito Internacional Humanitário (DIH) fornece proteções relativas às consequências jurídicas e humanitárias do conflito armado. Se todas as partes trabalhassem dentro do âmbito do DIH, todo mundo sairia ganhando. O objetivo é garantir que o sofrimento da população civil durante a escalada seja reduzido ao mínimo. Continuamos colaborando com todas as partes nesta questão, que é de suma importância.
O CICV aprecia o cessar-fogo, mas, mesmo que ele perdure – e espero sinceramente que sim –, as pessoas ainda precisam de assistência e apoio. Oito em cada dez pessoas em Gaza já dependiam de algum tipo de ajuda humanitária. A assistência e o apoio são importantes e ajudam a evitar um colapso absoluto a curto prazo.
No entanto, apenas as soluções políticas podem produzir melhorias sustentáveis.
Quero agradecer aos voluntários da Sociedade do Crescente Vermelho da Palestina e do Magen David Adom, que estiveram à frente da resposta a necessidades humanitárias urgentes, embora também tenham sido afetados pelas hostilidades. Com os parceiros da Sociedade Nacional, nossa prioridade é continuar avaliando as necessidades humanitárias mais urgentes, apoiar os prestadores de serviços essenciais e ajudar as pessoas afetadas a iniciar o difícil, para alguns quase impossível, processo de reconstrução da própria vida.
Mais informações:
Suhair Zakkout (Gaza): szakkout@icrc.org M. +972 599 255 381
Tali Shamir (Tel Aviv): tshamir@icrc.org M. +972524160917
Imene Trabelsi (Beirute): itrabelsi@icrc.org M. +961 3 13 83 53
Jason Straziuso (Genebra): jstraziuso@icrc.org M. +41 79 949 3512
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Observações para os editores:
O CICV está presente em Israel e nos territórios ocupados desde 1967. A organização fomenta o cumprimento DIH e trabalha para mitigar o impacto da violência, do conflito e da ocupação na população civil, por meio de atividades de proteção e programas de assistência. O CICV visita as pessoas detidas em lugares de detenção israelenses e palestinos, e trabalha para manter os laços familiares por meio do programa de visitas familiares. Também apoia projetos de subsistência e ajuda a melhorar o acesso a serviços básicos, como água e energia elétrica, em Gaza. Acima de tudo, defende as pessoas afetadas por conflitos armados, seus direitos e sua dignidade. O CICV tem escritórios em Tel Aviv, na Cisjordânia e em Gaza, e apoia o trabalho da Sociedade do Crescente Vermelho da Palestina e do Magen David Adom em Israel.
Mais informações sobre os programas de saúde mental do CICV em Gaza:
Nos últimos meses, o CICV trabalhou em Gaza com a prefeitura, a Defesa Civil e os serviços médicos militares para fornecer apoio em saúde mental a pessoas com deficiência física e aumentar a capacidade dessas estruturas de fornecer apoio psicossocial a socorristas de emergência. O CICV também ajuda o Hospital Barzilai, no sul de Israel, a melhorar suas capacidades de prestar atendimento de saúde mental à população e à equipe de saúde.
O CICV também manteve a parceria com o Ministério da Saúde para apoiar o bem-estar mental e psicossocial de cerca de 5 mil moradores da Faixa de Gaza, inclusive, mas não exclusivamente, profissionais de saúde, pacientes com Covid-19 que se isolaram e seus cuidadores.