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As lembranças de Hiroshima e Nagasaki instam que eliminemos as armas nucleares

Por Tadateru Konoe, Presidente, Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, e Peter Maurer, Presidente, Comitê Internacional da Cruz Vermelha

Considere uma realidade chocante: hoje, 70 anos depois dos bombardeios atômicos em Hiroshima e Nagasaki, os hospitais da Cruz Vermelha ainda atendem milhares de sobreviventes para tratar os efeitos posteriores da radiação e quase dois terços das mortes entre essas pessoas se dão em decorrência do câncer.

Ainda assim, as duas bombas nucleares que causaram esse sofrimento humano e devastação indescritíveis são pequenas comparadas com a maioria dos atuais arsenais dos Estados que têm armas nucleares.

Que outro argumento mais convincente poderia haver, portanto, para a comunidade internacional redobrar os seus esforços fracassados para garantir uma programação para proibir o uso das armas nucleares e assegurar que sejam completamente eliminadas?

Antes que seja muito tarde.

O horror que os habitantes dessas duas cidades sentiram enquanto os seus entes queridos eram incinerados e os feridos buscavam em vão atendimento médico torna este aniversário um evento profundamente emotivo em si.

A contínua incidência de leucemia e outros tipos de câncer, ademais de preocupações no longo prazo quanto ao potencial impacto genético sobre as crianças cujos pais estiveram expostos à radiação faz desta uma comemoração repleta de dor e ansiedade.

O fato de Hiroshima e Nagasaki terem conseguido se reconstruir e se revitalizar, além do fato de as populações dessas cidades terem advogado intensamente pela abolição das armas nucleares, são ambos poderosos símbolos da resiliência humana.

O que torna essa comemoração ainda mais comovente é o momento. Acontece apenas alguns meses após a Conferência de Revisão do Tratamento sobre não Proliferação de Armas Nucleares não ter conseguido obter o progresso na eliminação das armas nucleares.

Este resultado foi profundamente decepcionante. Mas temos essa dívida tanto com os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki, como para as centenas de milhares de pessoas que perderam as vidas e não desistiremos.

O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho continuará o seu trabalho de conscientização quanto ao terrível custo humano das armas nucleares e insta todos os Estados a garantirem que essas armas nunca mais voltarão a ser usadas.

Os governos devem buscar também negociações para proibir o uso das armas nucleares e eliminar completamente o seu uso por meio de um acordo internacional vinculante.

Setenta anos depois de terem sido usadas, é hora de finalmente pôr um fim à era das armas nucleares. As consequências humanitárias duradouras de Hiroshima e Nagasaki devem nos lembrar a todos do que está em risco e incentivar a ação do Movimento. Eliminar por completo as armas nucleares do mundo é um imperativo humanitário e é a única maneira de avançar.

 

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