A maioria dos millennials vê a guerra catastrófica como uma possibilidade real e acredita que deve haver limites

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha entrevistou 16 mil pessoas da geração millennial em 16 países sobre a visão que têm sobre a guerra

16 janeiro 2020
A maioria dos <i>millennials</i> vê a guerra catastrófica como uma possibilidade real e acredita que deve haver limites

Genebra (CICV) – Os millennials veem a guerra catastrófica como uma possibilidade real da sua época. De fato, a maioria das pessoas dessa geração entrevistadas pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) acredita que é mais provável que ocorra um ataque nuclear na próxima década do que o contrário.

Uma pesquisa realizada no ano passado com mais de 16 mil millennials em 16 países – grosso modo metade em paz, metade em conflito – encarregada pelo CICV analisou os pontos de vista deles sobre os conflitos, o futuro das guerras e os valores subjacentes aos Direito Internacional Humanitário, como o uso da tortura contra combatentes inimigos.

Os resultados indicam que essa geração está preocupada quanto ao futuro e a crescente tensão no mundo todo tende a agravar esses temores.

Quase metade das pessoas entrevistadas - 47 por cento - pensa é mais provável que haja uma terceira guerra mundial durante a sua vida do que o contrário. E embora 84 por cento acredite que o uso de armas nucleares nunca é aceitável, 54 por cento crê que é mais provável que ocorra um ataque nuclear na próxima década do que o contrário.

"Esse pressentimento da geração millennial pode refletir um aumento na polarização e da retórica desumanizante", afirmou o presidente do CICV, Peter Maurer. "Se os millennials estiverem corretos sobre a terceira guerra mundial, o sofrimento de países e regiões será imenso. É uma advertência sobre a importância de que as leis da guerra que protegem a humanidade sejam respeitadas hoje e no futuro."

Por outro lado, é encorajador ver que 74 por cento dos millennials também acreditam que as guerras podem ser evitadas e quase a mesma cifra (75 por cento) pensa que devem ser impostos limites à maneira como as guerras são travadas.

No entanto, a pesquisa revela tendências preocupantes que indicam uma falta de respeito pelos valores humanos básicos consagrados pelo Direito Internacional: 37 por cento acredita que a tortura é aceitável em algumas circunstâncias - mesmo depois de a convenção da ONU que bane a tortura ter sido explicada para eles; e 15 por cento pensa que os combatentes devem fazer o que for necessário para ganhar, sem importar que isso cause vítimas civis.

Uma coisa é clara: a pesquisa mostrou que a experiência da guerra faz com que as pessoas odeiem a guerra. Na Síria, 98 por cento dos entrevistados afirmou que nunca é aceitável usar armas químicas; 96 por cento declarou o mesmo sobre as armas biológicas; e 85 por cento acredita que os combatentes inimigos capturados devem poder contactar as suas famílias. Essas quatro respostas foram as mais altas de toda a pesquisa em 16 países.

"Quando uma pessoa vê amigos e familiares sofrendo os horrores da guerra, ela não quer absolutamente nada que tenha a ver com armas de guerra. As respostas dos millennials na Síria, Ucrânia e Afeganistão confirmam o que para nós é um fato óbvio: a experiência da guerra faz a pessoa odiar a guerra", declarou Maurer.

As pessoas em países afetados pela guerra tendem a pensar que haverá menos ou nenhuma guerra no futuro, em comparação com os entrevistados que vivem em países em paz (46 por cento e 30 por cento, respectivamente). As pessoas entrevistadas oriundas de países afetados pela guerra também têm um alto nível de esperança: 69 por cento delas na Ucrânia acreditam que a guerra no seu país deverá terminar nos próximos cinco anos.

Armas nucleares: A pesquisa encontrou ambiguidade em relação à questão das armas nucleares: pelo menos dois terços dos entrevistados nos 16 países afirmaram que o uso de armas nucleares "nunca é aceitável", porém a maioria - 54 por cento - também crê que haverá um ataque nuclear na próxima década. A maioria das pessoas entrevistadas pensa que as armas nucleares devem ser banidas (também 54 por cento).

Na Síria, 98 por cento das pessoas que participaram da pesquisa manifestaram que o uso de armas nucleares nunca é aceitável, seguido pela Colômbia (93 por cento), Ucrânia (92 por cento) e Suíça (92 por cento). No outro lado do espectro estavam as respostas da Nigéria (68 por cento) e dos Estados Unidos (73 por cento).

No geral, quatro de cinco das pessoas entrevistadas afirmaram que a existência de armas nucleares é uma ameaça à humanidade; 64 por cento das pessoas que participaram da pesquisa disseram que os Estados que possuem armas nucleares deveriam eliminá-las.

As principais preocupações dos millennials: Apesar da visão dos entrevistados da geração millennial sobre um futuro ataque nuclear, estes também afirmaram que as armas nucleares era o ponto que menos preocupava de uma lista de 12 questões. A corrupção era a questão mais preocupante, tendo sido mencionada por 54 por cento dos entrevistados; o desemprego aparecia em segundo lugar com 52 por cento; o aumento da pobreza e o terrorismo vinham a seguir, ambos com 47 por centro; e somente aí a guerra e o conflito armado, com 45 por cento. As armas nucleares foram mencionadas por 24 por cento.

O futuro dos combates: Com relação ao futuro dos conflitos, 36 por cento das pessoas que participaram da pesquisa indicaram que os drones e robôs autônomos - que não são controlados por humanos - aumentarão o número de vítimas civis nas guerras e conflitos armados; 32 por cento afirmou que eles diminuirão o número de vítimas civis e 24 por cento acredita que não fariam diferença.

Vítimas civis: Um total de 78 por cento das pessoas entrevistas afirmaram que os combatentes devem evitar as vítimas civis o máximo possível. O número foi mais elevado em países em paz do que em países que passam por conflitos (83 por cento e 73 por cento, respectivamente).

Saúde mental: No geral, 73 por cento dos entrevistados afirmaram que atender as necessidades de saúde mental das vítimas de conflitos é tão importante quanto supri-las de alimentos, água e abrigo. A resposta com percentual mais elevado foi na Síria, com 87 por cento; o mais baixo foi em Israel, com 60 por cento.

Tortura: Para 55 por cento das pessoas que participaram da pesquisa, torturar um combatente inimigo nunca é aceitável; as respostas com percentual mais elevados foram na Síria e na Colômbia, ambos com 71 por cento; os percentuais mais baixos foram em Israel e Nigéria, com 23 por cento e 29 por cento, respectivamente.

Convenções de Genebra: Para 75 por cento dos entrevistados, sete décadas após a criação das Convenções de Genebra, ainda existe a necessidade de que se imponham limites à forma como as guerras podem ser travadas. No geral, 54 por cento dos entrevistados já tinham ouvido falar das Convenções de Genebra, sendo os números mais elevados na Síria (81 por cento), Rússia e Ucrânia (ambos com 76 por cento), França (75 por cento) e Suíça (74 por cento).

Metodologia:

A pesquisa "Os millennials e a guerra" foi encomendada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha e realizada pela Ipsos, que conduziu a pesquisa entre 1º de junho e 7 de outubro usando um método misto: 16.288 entrevistas foram completadas por adultos com idades entre 20 e 35 anos que viviam nos seguintes lugares: Afeganistão, África do Sul, Colômbia, Estados Unidos, França, Indonésia, Israel, Malásia, México, Nigéria, Reino Unido, Rússia, Síria, Suíça, Territórios Ocupados da Palestina, Ucrânia.

Foram estabelecidas quotas de idade, gênero, região e tipo de assentamento para garantir que a mostra representasse bem as estruturas da população da geração millennial por essas variáveis nos respectivos países.

Nota para os editores: Os dados completos por país estão disponíveis a pedido. Mais dados da pesquisa disponíveis em www.icrc.org/pt/millennials-e-guerra. Material bruto sobre o conflito e entrevistas realizadas na rua com os millennials de diversos países estão disponíveis para difusão em www.icrcnewsroom.org.

Baixar o relatório completo em inglês

(em breve, versão em português)

For further information, please contact:

Anita Dullard (English), adullard@icrc.org or +41 795 741 554
Juliette Ebele (French, English), jebele@icrc.org or +41 22 730 32 06
Jason Straziuso (English), jstraziuso@icrc.org or +41 79 949 3512