Moçambique: kits permitem novo começo para 9 mil pessoas deslocadas em Metuge
Momba e oito integrantes da sua família foram forçados a deixar sua casa no distrito de Macomia, Moçambique, em julho de 2020, para Pemba e, finalmente, para o distrito de Metuge. A família não levou nada consigo, mas ainda assim considera que tem sorte, já que todos os seus integrantes chegaram a salvo da violência em Cabo Delgado.
"Quando fugimos da nossa aldeia, ficamos na mata durante três dias. Nos alimentávamos de mandioca e colocávamos nossa vida em risco ao buscar água para beber nos rios próximos", conta Momba.
A experiência de Momba é a realidade de muitas pessoas afetadas pela violência na província de Cabo Delgado, norte do país. Apesar de muitas terem um lugar de reassentamento indicado, ainda há outras dificuldades, já que elas chegam sem nada para recomeçar suas vidas.
"Quando chegamos ao local de reassentamento, vivíamos sob um cajueiro porque não tínhamos casa. Foi quando um residente me alojou com toda minha família na varanda da sua casa, enquanto eu cortava paus para fazer a minha própria casa", lembra Momba.
Kits para recomeçar a vida
Para apoiar estas famílias a recomeçarem, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) forneceu recentemente kits com artigos essenciais para mais de 9 mil pessoas deslocadas no distrito de Metuge. Os kits incluem lonas, mantas, esteiras, redes mosquiteiras, baldes, panelas, talheres, copos e sabão. Porém, muito mais é preciso para que homens, mulheres, idosos e crianças retomem suas vidas ao que era antes.
Com o kit recebido, Momba poderá fazer o teto da casa temporária que ele construiu, o que permitirá manter a família protegida da chuva e ajudará a melhorar as condições de vida. "Os demais materiais com certeza serão de grande ajuda, porque eu dormia no chão com os meus filhos de 10 e de 7 anos e sem redes mosquiteiras."
Dificuldades do dia a dia
Mesmo depois de ter recebido os kits com artigos essenciais de abrigo e de cozinha, as famílias deslocadas ainda precisam de mais apoio, pois carecem de emprego ou outra fonte de renda para se sustentar nos locais onde se hospedaram.
Quando Momba acabava de chegar à cidade de Pemba, fazia pequenos trabalhos como transportar areia para vender. Com o dinheiro recebido, sustentava a sua família. Mas, devido às dificuldades que tinha ao viver na cidade, ele preferiu se reassentar em Metuge, numa zona do campo, onde recebeu um local para cultivar a terra e continuar a sustentar a sua família.
Antes de fugir do conflito armado na sua cidade natal, Momba trabalhava na agricultura, atividade que fornecia alimentos e renda para a sua família. "Nessa nova e pequena machamba (plantação), consegui cultivar feijão, milho e amendoim, mas por enquanto será apenas para o consumo familiar, pois se vendermos ficaremos sem nada para nós."
Apesar de todas as conquistas que tem tido no seu dia-a-dia, Momba ainda fala de dificuldades de acesso à água e a medicamentos. "Continuo com dificuldades de tudo porque gostaria de viver uma vida normal como os outros, de ter minha renda e poder comprar algo para a minha esposa e meus filhos."
Além da distribuição de kits essenciais de cozinha e de abrigo, o CICV ajudou 5.625 famílias deslocadas em Cabo Delgado com o programa de transferência de renda para que possam iniciar seu próprio negócio e a entrega kits de agricultura e pesca. Por outro lado, para melhorar o acesso à assistência à saúde e à água potável, a organização tem reformado e ampliado centros de saúde, bombas, poços e rede de distribuição de água. Porém, muito mais é necessário.