As equipes do CICV e da Cruz Vermelha Centro-Africana evacuam uma pessoa ferida em 29 de dezembro de 2020 nas proximidades de Grimari. Sebastien Fustier / CICV

República Centro-Africana: todos os feridos devem ser poupados e receber tratamento médico

O princípio de garantia do acesso seguro ao tratamento médico deve ser cumprido por todos – em particular, poupando as vidas e permitindo o atendimento das pessoas feridas do terreno inimigo. Todos os atores devem respeitar e garantir o respeito ao direito dos doentes e feridos de receber tratamento médico e garantir que os estabelecimentos, veículos e profissionais de saúde sejam protegidos.
Artigo 26 janeiro 2021 República Centro-Africana

"Há sinais preocupantes de que esse princípio não está sendo respeitado. Devem ser tomadas medidas agora para impedir que novas violações aconteçam", afirmou Bruce Biber, chefe da delegação do CICV na República Centro-Africana.

Cerca de 100 mil pessoas fugiram dos combates entre as forças do governo e grupos armados, que se iniciaram quando as pessoas foram às urnas em meados de dezembro de 2020. Apesar da instabilidade, da violência e da situação política obscura, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) continua negociando com os portadores de armas para obter acesso a todas as áreas do país afetadas pelos confrontos, a fim de evacuar os feridos e prestar assistência a milhares de famílias cujas vidas foram novamente alteradas pela violência.

Voluntários da Cruz Vermelha Centro-Africana, com o apoio do CICV, ajudam as autoridades a reunir os corpos das vítimas dos enfrentamentos. Garantir um tratamento digno aos corpos é um imperativo humanitário.
Voluntários da Cruz Vermelha Centro-Africana, com o apoio do CICV, ajudam as autoridades a reunir os corpos das vítimas dos enfrentamentos. Garantir um tratamento digno aos corpos é um imperativo humanitário. CICV

Evacuação de feridos e recuperação de corpos

Desde 15 de dezembro, 46 pessoas foram levadas a hospitais em Bangui e Bambari. "O mais importante neste momento é garantir que os feridos mais graves sejam levados a centros de saúde onde possam receber tratamento", disse Aly Ouattara, coordenador médico do CICV.

Graças aos equipamentos e ao apoio logístico oferecidos pelo CICV, voluntários da Cruz Vermelha local conseguiram recuperar cerca de 30 corpos dos lugares onde ocorreram os combates, em Bangui, em 13 de janeiro.

 A recuperação de corpos pode ter um impacto psicológico, mas ajudar as pessoas a tratá-los com dignidade é um imperativo humanitário

Bruce Biber, chefe da delegação do CICV em Bangui

Temores sobre a escassez de alimentos

Devido à falta de segurança, as rotas que ligam a República Centro-Africana a Camarões estão bloqueadas há várias semanas. Como resultado, o preço de certos alimentos aumentou nos mercados de Bangui e arredores. Comboios humanitários foram suspensos. "Estamos profundamente preocupados com a possibilidade de que as famílias não tenham alimentos suficientes. Elas não podem esperar muito. A situação só está piorando", disse Biber.

Muitas famílias que fugiram antes da eclosão do conflito estão escondidas na mata, esperando pelo fim dos combates para poder voltar para casa. Cerca de 100 mil pessoas no país foram deslocadas, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, mais de 84 mil buscaram refúgio em outros países.

Mesmo antes da crise eleitoral, o crime generalizado e os diversos grupos armados já dificultavam o estabelecimento de um diálogo formal, com garantias de segurança. Desde a eleição, a situação de segurança piorou. Algumas áreas estão virtualmente isoladas do mundo exterior há semanas. Apesar disso, os funcionários do CICV puderam alcançar algumas áreas e estar perto das pessoas afetadas.

"É difícil prever com a situação evoluirá, mas sabemos que as necessidades das pessoas provavelmente aumentarão com o passar do tempo", afirmou Biber. O CICV continua fazendo todo o possível para obter as garantias de segurança necessárias para alcançar as pessoas cujo acesso à assistência à saúde e aos artigos essenciais foi gravemente prejudicado pelos combates.

Na República Centro-Africana, assim como em qualquer outro lugar do mundo, o CICV busca um diálogo com os portadores de armas e os círculos de influência para difundir as normas essenciais do Direito Internacional Humanitário (DIH).
Na República Centro-Africana, assim como em qualquer outro lugar do mundo, o CICV busca um diálogo com os portadores de armas e os círculos de influência para difundir as normas essenciais do Direito Internacional Humanitário (DIH). CICV

Notas operacionais (15 de dezembro de 2020 a 15 de janeiro de 2021)

• O CICV continua buscando o diálogo com todos os portadores de armas e os responsáveis pela tomada de decisões.
• Uma equipe do CICV visitou pessoas privadas de liberdade em relação com os combates atuais.
• Distribuímos material médico e equipamentos a cinco hospitais e um centro de saúde que atendem pessoas feridas nos enfrentamentos de Bangui.
• Doamos outros suprimentos de saúde a hospitais em Boali, Bossembélé, Yaloké, Bouar e Kuango, no interior do país.
• O CICV continua oferecendo apoio técnico e prático à SODECA, a empresa de abastecimento de água do país encarregada de fornecer água potável para Bangui. O CICV entregou equipamentos hidráulicos para reparar os sérios vazamentos.
• O CICV transportou água potável para internos do presídio de Ngaragba, em Bangui, durante os dois últimos cortes de água. Quase 5 mil deslocados reunidos ao redor da igreja em Dékoa também receberam água potável, após o CICV ter doado combustível para a bomba de água.
• O CICV forneceu equipamentos e capacitação em primeiros socorros para 340 voluntários em 19 filiais da Cruz Vermelha Centro-Africana.
• Realizamos avaliações sobre as necessidades humanitárias. Alimentos e outros artigos de primeira necessidade serão distribuídos em diferentes partes do país nas próximas semanas.

Mais informações:
Halimatou Amadou, CICV Dakar, +221 78 186 46 87, hamadou@icrc.org
Taoffic Mohamed Touré, CICV Bangui, +236 75 64 30 07, ttoure@icrc.org