Sri Lanka: reunificação de uma família separada por quase três décadas

20 fevereiro 2018
Sri Lanka: reunificação de uma família separada por quase três décadas
CC BY-NC-ND / CICV / Y. Adhikari

Inúmeras pessoas morrem durante um conflito armado. Muitas são separadas das suas famílias e entes queridos. Outras desaparecem. O conflito armado no Sri Lanka entre o Governo e os Tigres de de Liberação de Tamil Eelam separou famílias. Periyasamy Ramaiah nunca imaginou que a sua seria dividida em duas. Quase três décadas depois, quando ele começou a acreditar que morreria antes de ver a família reunida, o que parecia impossível aconteceu.

Em 1989, a esposa de Ramaiah, Ranjani, foi para Mullaitivu no norte do Sri Lanka para passar um tempo com a família da irmã. O casal teve quatro filhos – três meninos e uma menina. Um filho e uma filha viajaram com Ranjani para Mullaitivu. A tensão naquela região do país, devido ao conflito, causou o fechamento da estrada que unia Mullaitivu a Batticaloa, cidade natal de Ramaiah.

Ranjani e os dois filhos tiveram de fugir a um campo de refugiados na Índia junto com outros moradores da cidade. Ela não conseguiu contatar Ramaiah nem lhe mandar uma mensagem. Ele e os dois filhos esperaram. Nunca deixaram de esperar pelo dia em que a família voltaria a se reunir.

Do outro lado do mar, Ranjani e os filhos tinham a mesma esperança, vivendo com medo e incertezas. Em 2017, a filha Jemila descobriu que a Cruz Vermelha Indiana ajudava a buscar parentes desaparecidos. Ela decidiu fazer o pedido de busca do pai e dos dois irmãos no Sri Lanka. O pedido foi enviado para a filial de Batticaloa da Cruz Vermelha.

Ruthraj, voluntário para busca de familiares da Cruz Vermelha do Sri Lanka em Batticaloa desde 2012, trabalhou duro para encontrar Ramaiah. Apesar de ter 68 anos e ser o voluntário mais velho da filial, ele não economizou esforços para resolver a angústia da família. Como marido, pai de duas filhas e avô, ele entendia perfeitamente o valor da família.

"Quando fui ao endereço que a Jemila nos deu, ninguém na comunidade se lembrava da família", conta Ruthraj. Mas isso não o deteve. Ele voltou no dia seguinte e falou com alguns dos membros mais velhos da comunidade que lhe deram o contato de alguém que poderia se lembrar de Ramaiah. Uma visita a essa pessoa e uma viagem a Eachanthivu, em Batticaloa, finalmente o levou até Ramaiah.

Com muita felicidade, Ruthraj ajudou Ramaiah a enviar imediatamente uma mensagem cruz vermelha para sua família na Índia. Posteriormente, a Cruz Vermelha do Sri Lanka fez uma ligação internacional para que a família pudesse falar entre si. Foi um momento muito especial e emotivo.

Eu não tinha como buscar a minha família, vivendo, anos após anos, com a incerteza e esperando uma resposta. Tinha medo que nunca nos encontraríamos antes de eu morrer. E agora com 75 anos, a minha angústia finalmente terminou.

Ramaiah (esq.) com Ruthraj (dir.), o voluntário que reuniu a família. CC BY-NC-ND / CICV / Y. Adhikari

Os filhos de Ramaiah também ficaram muito felizes. Um deles, Kamalahasan, disse que as palavras não bastavam para expressar a sua felicidade no dia em que a família foi reunida. "Depois de tantos anos pude falar não somente com a minha mãe, mas com meus irmãos também. Eles vão voltar para o Sri Lanka. Sou muito agradecido à Cruz Vermelha", fala com sofreguidão. A sua esposa conta que falam com Ranjani todos os dias. "Perdi os meus pais há muitos anos. Então, falar com a minha sogra me deixa contente. Espero poder cuidar dela quando ela voltar para o Sri Lanka", diz.