Comunicado de imprensa

Sudão: ataques brutais contra população civil devem terminar

O diretor regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para a África, Patrick Youssef, acaba de se reunir no Sudão com as autoridades governamentais e representantes das Forças de Apoio Rápido. Nesta declaração, ele alerta sobre o preocupante deterioro da situação humanitária.

A desesperança e a violência imperam no Sudão. Infelizmente, as conversas em Jeddah não chegaram a um acordo para o fim das hostilidades – muito pelo contrário. A expansão militar continua em várias partes do país. Uma crise humanitária devastadora ocorre diante dos nossos próprios olhos.

Os ataques permanentes, brutais e dirigidos especificamente contra a população civil são uma das características predominantes desta guerra.

Nossa mensagem é clara: esses ataques devem terminar.

O poder das armas também implica a responsabilidade e a obrigação, para as partes em conflito, de respeitar e proteger a população civil, conforme as normas do Direito Internacional Humanitário (DIH).

Esta guerra causou incontáveis mortes e quase sete milhões de pessoas foram obrigadas a se deslocar em decorrência dos combates. Todos os dias, as equipes do CICV e do Crescente Vermelho Sudanês recebem ligações desesperadas da população. Famílias que nos pedem ajuda para trasladar pessoas feridas ou doentes ou familiares por medo de serem presas no caminho. Algumas nos comunicam o desaparecimento de entes queridos. Outras nos descrevem uma escandalosa falta de água potável e alimentos.

Desde abril de 2023, o preço da cesta alimentar aumentou 60%, fazendo com que cerca de 20 milhões de pessoas se encontrem em uma situação de insegurança alimentar aguda.

No oeste do Sudão, os combates alcançaram um ponto crítico e afetam as zonas povoadas das principais cidades de Al Jeneina, Zalingei, Nyala. As operações militares em curso desestabilizam gravemente o funcionamento de hospitais, o acesso à eletricidade e às telecomunicações.

Apesar das precárias condições de segurança, trabalhamos para que ninguém seja abandonado à sua própria sorte nas zonas onde estamos presentes. Esta semana, enviamos material médico e uma equipe de cirurgia ao hospital universitário de Al Jeneina, onde as pessoas feridas de guerra devem ser atendidas com urgência.

Lembramos incansavelmente que todas as partes devem respeitar o acesso ao atendimento médico: deve-se preservar a vida de quem não participa dos combates e permitir o atendimento dos adversários feridos.

Hoje, por pedido das partes em conflito, facilitamos a reunião de mais de 60 pessoas que estavam detidas com as suas famílias em Nyala, ao sul de Darfur.

Agradecemos ter podido facilitar estes reencontros entre familiares, depois de meses de separação. Estas operações destacam a importância da neutralidade do CICV e da sua capacidade de trabalhar com todas as partes.

No entanto, a resposta frente a esta angustiante situação continua sendo muito limitada. Para as organizações humanitárias, é intolerável continuar com as mãos atadas frente à imensidão das necessidades. A facilitação das operações humanitárias, começando pela simplificação das formalidades administrativas, é uma obrigação em virtude do DIH. Portanto, reiteramos o nosso apelo a todas as partes para que adotem medidas concretas e práticas no marco das conversações iniciadas em Jeddah.

A população sudanesa já sofreu demais. É hora de garantir um espaço humanitário neutro e imparcial e de prestar uma ajuda que esteja à altura das necessidades. Segundo a nossa experiência, quanto mais se respeitam as normas da guerra, maiores são as possibilidades de conseguir a paz e a reconciliação.

Sobre o CICV

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) é uma organização neutra, imparcial e independente com um mandato exclusivamente humanitário estabelecido pelas Convenções de Genebra 1949. Ajuda as pessoas afetadas por conflitos armados ou por outras situações de violência no mundo todo, fazendo o possível para proteger sua vida e dignidade, e para aliviar seu sofrimento, com frequência em parceria com a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho.

 

Mais informações:

Germain Mwehu, CICV Wad Madani, +249 912 150 735, gemwehu@icrc.org

Florian Seriex, CICV Nairóbi, +254 110 938 077, fseriex@icrc.org

Halimatou Amadou, CICV Genebra, +41 79 868 55 83, hamadou@icrc.org