Venezuela: fabricando sonhos entre pães, doces e biscoitos

Venezuela: fabricando sonhos entre pães, doces e biscoitos

Artigo 31 outubro 2019 Venezuela

― Manda brasa!

Foi o que disse o marido de Isangeli quando ela lhe contou que queria estudar panificação e perguntou o ele que achava. Fazia tempo que ela queria aprender, mas não tinha dinheiro para pagar o curso de culinária. Assim, quando viu no Facebook que era possível fazer aulas de graça, Isangeli não pensou duas vezes e se inscreveu.

"No primeiro dia, aprendemos a fazer golfeados [pães doces típicos da Venezuela]. Essa foi a primeira receita que anotei no meu caderno", conta Isangeli enquanto sova a massa dos pães que prepara nesse dia. Assim como ela, seus 20 colegas estudam para serem padeiros profissionais.

Desde agosto de 2019, o CICV apoia o centro de formação da comunidade de La Veja, uma zona popular no oeste de Caracas: fornece os recursos técnicos e materiais para que pessoas como Isangeli aprendam um novo ofício e o coloquem em prática no processo de aprendizagem. O objetivo é que todos concluam a formação e possam melhorar a sua qualidade a partir da renda obtida com as novas habilidades que adquirirem.

O CICV trabalha – em conjunto com o Vicariato Nazareno La Pradera e com a organização de desenvolvimento social venezuelana Superatec – para a formação profissional de cerca de 160 jovens e adultos da comunidade de La Veja em diversos ofícios, como o de barbeiro, cabeleireiro, sapateiro, técnico em computação e padeiro.

Não é a primeira vez que são oferecidos cursos na comunidade. "Em outras ocasiões, embora o número de participantes fosse bom, muitos alunos não concluíam os cursos porque não tínhamos os materiais para que pudessem aprender bem. E eles tampouco tinham recursos para comprá-los", nos contou a irmã Corina, uma das encarregadas da organização das aulas.

Nas zonas onde a violência está presente na vida diária dos habitantes, há poucas oportunidades que lhes permitam melhorar a sua qualidade de vida, e muitas vezes as condições são precárias. A esse contexto somam-se fatores como a atual situação econômica da Venezuela, que, entre outras coisas, obriga-os a buscar novas alternativas para ganhar o dinheiro necessário para manter as suas famílias. 

Isangeli passou por situações muito duras em seus 27 anos de vida, como separar-se da mãe, que emigrou recentemente para buscar um melhor trabalho. "A única coisa que peço é estar outra vez com minha mãe para abraçá-la: sinto muito a sua falta", afirma.

Além de desenvolver as habilidades na cozinha, a capacitação também a ajudou a planejar o seu futuro como cozinheira. "Minha meta é abrir um negócio e que as pessoas me reconheçam como a melhor confeiteira", diz com orgulho.