Mudança climática e conflitos
O clima está mudando em todo o mundo, mas as pessoas que vivem em circunstâncias de fragilidade são as que sentem os efeitos mais gravemente. A mudança climática e os conflitos continuam causando um imenso sofrimento com a intensificação da desigualdade.
Na África Ocidental, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas prevê um aumento médio da temperatura de 3,3 °C até o ano de 2100, que poderia aumentar para 4,7 °C na região norte do Mali. Samuel TURPIN / Humans & Climate Change Stories
As crises climáticas e ambientais de hoje afetam todos os aspectos das nossas vidas, desde a nossa saúde física e mental, até os nossos alimentos, água e meios de subsistência. Embora essas crises afetem a todas as pessoas, as comunidades mais pobres e marginalizadas são as mais impactadas.
Na maioria das vezes, as pessoas que vivenciam conflitos relatam as enormes mudanças ambientais que veem. As suas vidas diárias não somente são dificultadas pela violência que vivenciam, mas também pelas mudanças climáticas e ambientais. Com frequência, elas estão mal preparadas para recorrentes perigos climáticos.
Dos 25 países mais vulneráveis à #MudançaClimática, 14 são afetados por conflitos armados.
— CICV (@CICV_pt) October 31, 2022
E esses mesmos países estão entre os mais negligenciados pelo #FinanciamentoClimático.
Isso precisa mudar.#COP27 pic.twitter.com/5mhM3FGaQk
Em 2020, o CICV lançou o relatório Quando a chuva se transforma em poeira (disponível em inglês), que ilustra como os países assolados por conflitos são desproporcionalmente impactados pela variabilidade e pelos extremos climáticos, devido às limitações na capacidade adaptativa das pessoas, sistemas e instituições que já lidam com as consequências dos conflitos.
Baseia-se em pesquisas conduzidas no sul do Iraque, norte do Mali e na República Centro-Africana, que enfrentam um conflito prolongado e apresentam grandes operações do CICV O relatório reflete como o setor humanitário precisa se ajustar e se adaptar para lidar com esses riscos e apela para que a ação climática e o financiamento sejam reforçados com urgência nos países afetados por conflitos.
Em lugares como a Somália — país enfraquecido por décadas de conflito e fragilidade — as secas e as enchentes obrigaram repetidamente as pessoas a se mudarem. Na região do Sahel, um clima imprevisível e a degradação ambiental dificultam ano após anos a sobrevivência de comunidades remotas e empobrecidas. Os seus mecanismos de superação vão sendo radicalmente desgastados pela violência e pela instabilidade.
No Iêmen e no Iraque, a escassez de água desafia a saúde, a alimentação e a segurança econômica e é agravada pela debilidade institucional. Em muitos casos, o conflito também prejudica diretamente os próprios ecossistemas dos quais as pessoas dependem para sobreviver.
As pessoas que vivenciam os conflitos não estão apenas entre as mais vulneráveis às crises climáticas e ambientais, mas também entre as mais negligenciadas pela ação climática, em parte devido aos desafios inerentes ao trabalho em tais entornos. Pedimos que essa tendência seja revertida.
As organizações humanitárias têm um papel importante a desempenhar na hora de encarar essas crises. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) trabalha para adaptar a sua resposta com o objetivo de apoiar as populações que lidam com os choques duplos de riscos climáticos e conflitos.
Precisamos unir forças em todo o setor humanitário e fora dele também para mitigar a mudança climática e garantir que as pessoas recebam o apoio adequado ao mesmo tempo em que se adaptam à crise climática agora e no futuro. A inação não é uma opção.
Robert Mardini, Diretor-Geral do CICV
Juntamente com a Federação Internacional da Cruz Vermelha (FICV), o CICV liderou o desenvolvimento de uma Carta Climática e Ambiental para Organizações Humanitárias cujo objetivo é orientar o setor na resposta a essas crises e mobilizar uma ação coletiva.
O CICV também se empenha para se tornar mais responsável em termos ambientais. As nossas atividades repercutem no meio ambiente e temos o compromisso de minimizar esses efeitos, sempre que possível.
Não temos tempo a perder. Temos a responsabilidade de nos unir, como comunidade humanitária, para fortalecer a nossa experiência e elaborar respostas adequadas às crises climáticas e ambientais. Unir forças é fundamental se quisermos reduzir o impacto dessas crises sobre as pessoas mais vulneráveis.
Robert Mardini, Diretor-Geral do CICV
Ninguém pode enfrentar esses desafios sozinho. A transformação radical é urgentemente necessária para evitar mais sofrimento. Proteger as vidas e os direitos das gerações presentes e futuras depende da ação política. Reduzir as emissões de gases de efeito estufa é vital.
Porém, esses esforços devem ser complementados ajudando as comunidades a se adaptarem. Apesar de estarem entre os mais vulneráveis aos efeitos da mudança climática, os países em conflito estão entre os mais negligenciados pelo financiamento relacionado a questões climáticas e, em particular, pelo financiamento para adaptação. Isso precisa mudar.