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Brasil: Rede Cuca e CICV promovem pré-lançamento de exposição sobre pessoas desaparecidas

Fotografias de jovens do Cuca Jangurussu foram projetadas na fachada do Museu da Imagem e do Som (MIS) do Ceará.
Projeção

Fortaleza (CE) – A Rede Cuca e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) promoveram, nesta quinta-feira (05/12), o pré-lançamento da exposição “Espera”, uma mostra de fotografias dos alunos do Cuca Jangurussu.  A exposição reúne imagens e depoimentos de pessoas que convivem com a dor da ausência e a esperança de encontrar familiares desaparecidos. 

A curadoria é do fotógrafo Celso Oliveira e a produção de Léo Silva. “Espera” é composta por 30 imagens selecionadas a partir de ensaios realizados por alunos dos cursos de fotografia do Cuca Jangurussu com familiares de pessoas desaparecidas de Fortaleza. Participam da mostra os jovens Dasha Shannah, Jefferson Moura, Caio Porfirio, Brenda Kelvia, Samara Carvalho, Laiza Lopes, Natã Rocha e Maria Clauziane.

Foto grupal
A. Alves/CICV

A pré-estreia da exposição fotográfica foi na fachada do Museu da Imagem e do Som (MIS) do Ceará.

Durante o evento, as fotografias foram projetadas na fachada do MIS. A exposição deve circular em outros espaços públicos do Ceará.  O aluno e fotógrafo Natã Rocha, 21 anos, emocionado, contou que não imaginava que fosse ter essa experiência durante o curso, ao confrontar-se ao desafio de retratar as ausências sentidas pelas famílias. “Algumas foram um pouco complexas, mas foram super interessantes. Aprendi bastante por meio da Rede Cuca e estou tendo a oportunidade de entrar em um ramo, abranger mais o meu portfólio para poder ser mais reconhecido”, comentou. Natã Rocha fotografou uma das mães do grupo Mulheres de Fé com Esperança. 

Já a aluna e fotógrafa Laiza Lopes afirmou que o curso muito imersivo e emocionante. “Foi muito lindo, a gente aprendeu de verdade. Foi um privilégio mesmo, as famílias são incríveis e nos receberam muito bem”, ressaltou. Laiza Lopes disse que, graças ao Cuca, ela, que vive na periferia, agora tem uma profissão e oportunidade de trabalhos. 

Laiza Lopes
A. Alves/CICV

Laiza Lopes ressaltou a importância do projeto entre o CUCA e o CICV.

Uma das mães fotografadas, Eliara Ferreira Silva, chamada carinhosamente por “Dona Boneca”, relatou que o acolhimento do CICV tem sido fundamental para que as Mulheres de Fé Com Esperança sigam na luta pela busca pelos familiares desaparecidos. “Eles são anjos nas nossas vidas. Antes, não tínhamos acesso a nada e, agora, os órgãos e instituições abrem as portas para nos receber. E esse projeto com o Cuca nos ajuda na divulgação. Essa dor vocês não podem ver, mas a gente sente muito”, disse.  

Familiares de pessoas desaparecidas
A. Alves/CICV

"Dona Boneca" agradeceu o apoio do CICV na luta pela causa do desaparecimento.

Já o diretor de Defesa dos Direitos Humanos do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), Felipe Biasoli, parabenizou o CICV pela atividade e pela parceria com a Rede Cuca. “Da parte do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, da ministra Macaé Evaristo, contem  com o nosso total esforço para que a gente possa avançar nessa pauta”, afirmou. 

“Espera”

“Espera” é resultado de um curso extensivo de “Fotografia Documental”, ofertado pela Rede Cuca em parceria com o CICV, sob orientação do professor Ulisses Narciso. Ao longo de quatro meses, os jovens tiveram aulas expositivas e práticas e participaram de oficinas e encontros para debater sobre temas como proteção de pessoas; mecanismos de busca e localização de pessoas desaparecidas; e comunicação no mundo humanitário, com especialistas da área. Para a captação das imagens, os fotógrafos foram acompanhados pelo CICV para visitar três famílias residentes da Região Metropolitana de Fortaleza que têm c familiares desaparecidos.

 “A parceria entre a Rede Cuca e o CICV nos alegra. O que a turma de fotografia apresenta nesta exposição vai além da expressão criativa: é um ato de empatia e coragem. Os jovens transformam suas vivências nas periferias de Fortaleza em um instrumento de sensibilização, abordando, através da arte, a dor do desaparecimento de pessoas. As lentes de suas câmeras capturaram – para além das imagens – os olhares e o coração que quem Espera - espera por seus entes queridos, por respostas e por justiça”, disse Mario Gutilla, chefe do escritório do CICV em Fortaleza. 

Projeção no MIS
A. Alves/CICV

Fotografias foram projetadas na fachada do Museu da Imagem e do Som (MIS).

De acordo com o professor Ulisses Narciso, o projeto primou por trabalhar com um material teórico que apresentasse a eles a fotografia documental, com leituras de portfólio de fotógrafos que se destacaram na produção de imagens com grande impacto na sociedade. Narciso acompanhou os jovens durante todo o processo formativo e fez uma seleção criteriosa dos jovens que se destacaram nos cursos de fotografia da Rede Cuca. 

“Para os alunos e alunas, foi uma verdadeira revelação do quanto a fotografia pode contribuir para um mundo melhor. A forma como os jovens se portaram, com respeito e muita empatia em relação às famílias, foi exemplar. E o resultado em termos da qualidade das fotografias, do ponto de vista técnico e estético, foi excelente e refletiu tudo o que foi discutido durante os módulos do curso extensivo”, destaca o professor.

Rede CUCA

A Rede Cuca é uma política pública de proteção social e oportunidades para jovens executada pela Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal da Juventude. Iniciada em 2009, atualmente, a Rede Cuca conta com cinco Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca) Todas as ações desenvolvidas pela Rede Cuca são gratuitas e têm como público-alvo jovens de 15 a 29 anos e suas famílias.

CICV

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) é uma organização humanitária neutra, imparcial e independente, presente  em mais de cem contextos. Atua há cinco anos em Fortaleza para contribuir com as autoridades municipais e estaduais e com a sociedade civil na resposta às consequências humanitárias da violência armada.

O escritório do CICV tem diferentes programas que atuam de maneira coordenada e transversal para apoiar a sociedade e o Estado brasileiro na elaboração e implementação de respostas multidisciplinares e sustentáveis, em benefício das comunidades impactadas pela violência armada.