Brasília, 22 de novembro de 2025 - À medida que o mundo enfrenta uma aceleração das mudanças climáticas, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) alerta que as comunidades afetadas por conflitos armados estão entre as mais vulneráveis do planeta aos impactos climáticos, mas seguem à margem dos esforços globais de adaptação — um verdadeiro “ponto cego” que começou a ser reconhecido na COP28 e COP29, quando Estados e organizações internacionais se comprometeram a ampliar o financiamento climático para contextos de conflito e fragilidade.
Agora, esses compromissos precisam ser transformados em ações concretas para que essas populações, altamente expostas aos riscos climáticos, recebam o apoio essencial de que necessitam. Esses desafios foram debatidos durante o evento paralelo oficial da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) “Ampliando a Ação Climática em Contextos de Conflito”, em 17 de novembro, em Belém, Pará (Brasil), moderado pelo chefe da Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Nicolas Olivier.
A sessão reuniu líderes globais de clima e desenvolvimento e ação humanitária para conectar as principais discussões da COP – financiamento climático, adaptação, perdas e danos e outros processos globais – às necessidades urgentes das populações que vivem em contextos frágeis e afetados por conflito armado. “A mudança climática importa para o CICV porque as comunidades com as quais trabalhamos estão na linha de frente da crise climática. Vemos todos os dias os impactos profundamente destrutivos da combinação entre conflito e riscos climáticos sobre a vida, a saúde e os meios de subsistência das pessoas”, afirmou Nicolas Olivier.
Segundo ele, as organizações humanitárias, sozinhas, simplesmente não conseguem atender às necessidades decorrentes das mudanças climáticas não mitigadas e da degradação ambiental. “Por isso trabalhamos com Estados, atores de desenvolvimento — incluindo grandes bancos e fundos — e outras organizações humanitárias para impulsionar ações que abordem os riscos climáticos em contextos de conflito”, destacou.
Para Olivier, houve avanços reais nesse sentido, uma vez que há um compromisso crescente de Estados e fundos climáticos em fazer mais em ambientes instáveis, pelo menos desde a COP26. “Mas ainda existe uma enorme lacuna entre a severa vulnerabilidade aos riscos climáticos dos países afetados por conflitos ou fragilidade e o apoio real que recebem para se adaptar. Ainda assim, vemos que a ação é possível mesmo nos cenários mais complexos, programas menores, em nível local, muitas vezes são possíveis e, em alguns casos, podem ser ampliados”, comentou o chefe da Delegação Regional.
“Para isso, é necessário que Estados e atores-chave do clima e do desenvolvimento aceitem um certo nível de risco e sustentem seus compromissos com financiamento climático suficiente — inclusive nos ambientes mais desafiadores”, completou.
A comunidade internacional começou a reconhecer a necessidade de fortalecer a ação climática e o financiamento em contextos frágeis e de conflito, como refletido na Declaração da COP28 sobre Clima, Alívio, Recuperação e Paz.
“Nesta COP, ouvimos muitos debates sobre transição justa, desenvolvimento inclusivo e empoderamento de comunidades e pessoas. Nosso sucesso — em atender necessidades urgentes, em enfrentar lacunas de desenvolvimento e em construir um futuro mais verde — deve ser medido por saber se as comunidades e países mais vulneráveis recebem o apoio de que precisam e merecem”, afirmou Nicolas Olivier. “É por isso que trabalhamos com Estados, atores de desenvolvimento — incluindo os principais bancos e fundos — e outras organizações humanitárias para promover a integração dos riscos climáticos nos contextos de conflito.”
Participaram do evento o ministro do Meio Ambiente, Pesca e Desenvolvimento Sustentável da República do Chade, Hassan Bakhit Djamous; o subsecretário do Ministério do Meio Ambiente e Florestas da República do Sudão do Sul, Joseph Africano Bartel; a diretora de Meios de Implementação da UNFCCC, Sophie de Coninck; a assessora Sênior de Políticas do Escritório do Assessor Especial para Ação Climática do ACNUR, Michelle Yonetani; a gerente da Divisão de Financiamento Climático e Ambiental do Banco Africano de Desenvolvimento, Gareth Phillips; e a diretora de Riscos Globais e Resiliência da ODI Global, Rebecca Nadin.