Foto: Fabrício Marinho/CICV

Brasil: CICV reforça Programa de Restabelecimento de Laços Familiares na fronteira do Brasil com a Venezuela

Pacaraima, município fronteiriço do estado de Roraima, é porta de entrada de muitas pessoas venezuelanas que migram para o Brasil. Na bagagem, além dos pertences, elas trazem consigo muita expectativa e incertezas do que vão encontrar em um novo país.
Artigo 30 agosto 2021 Brasil

Se uma mudança de país tende a ser um momento de muitos desafios, eles se tornam ainda maiores para aquelas pessoas em maior situação de vulnerabilidade, como a econômica, por exemplo.

O trabalhador autônomo Marco Antonio Navarro, por exemplo, chegou ao Brasil após uma jornada de três dias em que cruzou a Venezuela. Ele conta que foi assaltado quando viajava de ônibus até a fronteira ainda no país de origem e lhe tomaram a mochila com roupas, documentos e seu aparelho celular.

Depois do assalto, Marco se viu obrigado a seguir viagem caminhando a pé na travessia da fronteira com o Brasil apenas com a roupa que trazia consigo no corpo, enfrentando sol, chuva e fome.

"Quando cheguei aqui, estava em uma situação precária, mas a maior angústia é que eu não tinha como me comunicar com minha mãe e meu pai na Venezuela para dar notícias, dizer que estava vivo", conta Marco Antonio Navarro. Foto: Fabrício Marinho/CICV

Histórias como a de Navarro se repetem. E a perda de contato entre familiares ocorre de maneira frequente não só no Brasil, mas no mundo – seja por migração, desastres naturais ou conflitos armados. Por esta razão, o trabalho de reconectar pais e filhos, irmãos e irmãs, é uma necessidade humanitária, que é respondida pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho por meio do programa Restabelecimento de Laços Familiares (RLF).

E foi esse serviço que Marco encontrou, indicado por outras pessoas migrantes. Assim, ele pôde dar notícias aos seus entes queridos a partir do Centro de Capacitação e Referência (CCR), onde o CICV oferece o serviço de conectividade.

"Pude falar com a minha mãe e dar notícias. Foi um alívio dizer que estou vivo, apesar do problema que passei. Considero que um telefonema pode até parecer algo simples, mas, de verdade, é um serviço muito importante. Se você refletir, uma ligação, um contato, às vezes pode salvar uma vida", diz.

O RLF é parte do serviço prestado em vários países pelo CICV para ajudar pessoas migrantes, permitindo que eles e elas informem às suas famílias sobre seu paradeiro e mantenham contato com os entes queridos por meio de chamadas telefônicas, acesso à internet e recargas de bateria.

No estado de Roraima e em Manaus (AM) há vários pontos onde os serviços de conectividade são oferecidos. Foto: Fabrício Marinho/CICV

Como no caso de Marco, outro desafio que muitas pessoas migrantes enfrentam é o de ficar sem documentação pessoal. O CICV no Brasil e na Venezuela responde a essa necessidade humanitária facilitando o transporte de documentação de identidade entre os dois países.

Nicolás Palomo é migrante no Brasil e hoje atua como colaborador do CICV na fronteira, atendendo a compatriotas que buscam retomar ou manter contato com a família. Ele observa de perto o quanto esses serviços têm impacto direto para quem mais precisa.

"Comunicar-se é uma necessidade básica do ser humano. Quando a pessoa está em situação de vulnerabilidade, estar em contato com os entes queridos é ainda mais importante. Isso ameniza a ansiedade, o nervosismo e diminui a angústia. É comum que, depois de atendidas, as pessoas saiam daqui com outro semblante, menos preocupadas", afirma.

Nicolás Palomo é migrante no Brasil e hoje atua como colaborador do CICV na fronteira. Foto: Fabrício Marinho/CICV

A maior parte das pessoas atendidas vem da Venezuela, e, por esta razão, a maioria das ligações e contatos são feitos para este país. Em segundo lugar, as chamadas são feitas para pontos dentro do território brasileiro, uma vez que muitos familiares já seguiram para outras regiões do Brasil.

A chefe-adjunta do escritório do CICV em Roraima, Andrea Cristina Godoy Zamur, explica que, desde 2018, já foram realizados mais de 500 mil atendimentos de chamadas telefônicas e acesso à internet.

"Com a pandemia, houve uma certa diminuição no que a gente podia fazer, mas a demanda contínua pelos nossos serviços pela população afetada nos mostra como esse trabalho para as pessoas migrantes é muito relevante e tem um impacto enorme e direto na vida delas e até nas rotinas das organizações com as quais trabalhamos na resposta humanitária", conta.

Andrea Cristina Godoy Zamur explica que, desde 2018, já foram realizados mais de 500 mil atendimentos de chamadas telefônicas e acesso à internet. Foto: Fabrício Marinho/CICV

Em Pacaraima, após a flexibilização do Brasil em relação à entrada de pessoas pela fronteira, é realizada uma média de 450 atendimentos diários. A pandemia de Covid-19 representa um desafio adicional, mas, desde o início do surto da doença, o CICV adaptou sua resposta, com protocolos que buscam manter a segurança tanto de quem recebe o serviço como dos trabalhadores e trabalhadoras do setor humanitário que estão nessa frente.

No estado de Roraima e em Manaus (AM) há vários pontos onde os serviços de conectividade são oferecidos: em todas as estruturas da Operação Acolhida – abrigos, Posto de Recepção e Identificação (PRI), Postos de Triagem (PITRIG), Postos de Recepção e Apoio (PRA) – , além de em diversos espaços mantido por entidades parceiras.