Brasileira foi para Ucrânia recrutar trabalhadores humanitários
Funcionária do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Lydiane Bruno morou por 5 meses em Kiev e chegou a trabalhar em 200 recrutamentos simultâneos
Contratar ucranianos para atuar na resposta humanitária ao conflito armado internacional entre Rússia e Ucrânia. Essa foi a missão da analista de Recursos Humanos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) Lydiane de Arruda Bruno no período em que morou em Kiev, capital ucraniana, de maio a setembro de 2022.
Após 5 anos em Brasília, a analista foi chamada para ajudar no recrutamento na Ucrânia devido à rápida expansão das operações do CICV no país por causa do conflito. São mais de 700 trabalhadores do CICV em campo. Em Kiev o trabalho foi intenso e Lydiane chegou a atuar em 200 recrutamentos ao mesmo tempo.
"Você abre mão de muita coisa, tem o distanciamento e a preocupação da família e dos amigos, mas na minha experiência pessoal, você tem oportunidade de ver um lado da vida que talvez não veria num contexto de paz", lembra a analista.
A busca era por trabalhadores humanitários ucrânianos que pudessem atuar em diferentes frentes, como melhorar o abastecimento de água e as condições de saneamento para população ou no programa de restabelecimento de laços familiares, que busca evitar que as pessoas se percam de suas famílias ou facilitar reencontros.
Um dos principais desafios era a volatilidade do mercado de trabalho. Muitas pessoas estavam deixando as áreas mais afetadas pelo conflito no país por questões de segurança ou financeiras, uma vez que alguns haviam perdido tudo que tinham.
A analista também teve que adaptar sua rotina a um contexto de conflito armado. Lydiane usava três aplicativos de segurança e recebia informações diárias sobre o conflito. "Eu me informei sobre as regras de segurança, conversei com as pessoas que já estavam em Kiev , mas você só se dá conta quando está lá. E você se dá conta, mas deixa de se dar conta com o passar do tempo. Lembro que na primeira noite começou a tocar a sirene (que indicava a violação do espaço aéreo do país) às 4 horas da manhã. Lembrei dos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial e pensei ʽnossa, estou em uma guerra", conta.
Com o tempo, a percepção sobre o lugar também se transformou. "Quando cheguei em Kiev a cidade estava muito vazia e as pessoas falavam que antes do conflito era uma cidade muito viva, com gente na rua e aos poucos eu comecei a ver as pessoas voltando. Lembro da primeira vez que vi uma criança na rua. Isso me emocionou bastante porque comecei a refletir como a guerra continuava, mas ao mesmo tempo, foi um aprendizado poder observar a capacidade que o ser humano tem de tentar buscar ser resiliente e fazer o melhor dentro das possibilidades", lembra a analista.
Apesar de ser um contexto difícil devido à gravidade do conflito, nem todas contratações dependiam de experiência prévia. "Trabalhávamos muito com potencial, com pessoas que a gente poderia treinar e desenvolver a depender do cargo", explica Lydiane. Ela lembra que uma funcionária teve sua primeira experiência humanitária na Ucrânia. "Havia pessoas como ela, que estavam na primeira oportunidade de trabalho humanitário e se identificaram muito. Ela era incrível, com muito potencial e depois até me deu uma arvorezinha de presente, falou que eu mudei a vida dela", conta.
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