Prêmio de Cobertura Humanitária: Discurso da chefe de delegação regional do CICV

09 dezembro 2020
Prêmio de Cobertura Humanitária: Discurso da chefe de delegação regional do CICV
Foto: Tina Coelho/CICV

Não há como falar em cobertura humanitária em 2020 sem mencionar a pandemia de Covid-19. É uma doença que assola o mundo há quase um ano e pode atingir qualquer pessoa. De maneira cruel, ela evidencia desigualdades e vulnerabilidades. Enquanto poder trabalhar de casa é um privilégio para alguns de nós, água e sabão podem ser artigo de luxo para muitos outros.

Como era de se esperar, essa realidade foi amplamente retratada na maioria das reportagens inscritas para este prêmio. Histórias que foram além dos números graves e muitas vezes impessoais ou da esfera das grandes decisões e que colocaram o ser humano em primeiro plano. Que deram voz às vítimas, como temos estimulado em quatro anos de premiação.

Em tempos de desinformação, boatos e fake news, o jornalismo profissional se torna cada vez mais fundamental. Durante a pandemia, então, isso ficou ainda mais evidente. Sabemos que jornalistas não gostam de ser notícias, mas observamos que muitos correram mais riscos de contágio no árduo trabalho de manter a todos nós informados. O jornalismo também é um serviço essencial.

Estar junto às vítimas é um lema para nós, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. A resposta humanitária mais que nada requer estar no terreno, ter contato direto com as pessoas, compreender seu sofrimento e levar a elas proteção e assistência. Tudo isso depois que avaliamos suas necessidades de perto para fazermos o trabalho mais relevante possível e, depois, prestar contas a eles. É isso que fazemos em mais de 100 países. Seja em lugares distantes, como na Síria, no Iêmen ou no Sudão do Sul, seja aqui no Brasil.

Essa proximidade com o ser humano, muitas vezes no epicentro das crises, aproxima nossos universos; dos trabalhadores humanitários e dos jornalistas. E é esse tipo de cobertura – de proximidade, empatia, olho no olho – que a gente busca estimular aqui no Brasil há quase 20 anos. Tanto por meio da educação, com o projeto Repórteres do Futuro, em parceria com a Oboré, como por iniciativas como este prêmio de cobertura humanitária.

A pandemia é algo que está próximo de todos nós, mas uma cobertura humanizada vai fazer com que mesmo temas muito mais distantes ganhem a devida importância e atenção, não importando os quilômetros que separam a notícia do leitor. É ela que vai nos causar empatia com uma mãe que busca por seu filho desaparecido, mesmo que em outro continente, ou vai nos sensibilizar com a história de um refugiado do outro lado no mundo. No fim das contas, a cobertura humanitária é sobre pessoas falando para outras pessoas.

O Prêmio CICV de Cobertura Humanitária chega à sua quarta edição consolidado na agenda de premiações jornalísticas do Brasil e com número crescente de inscritos: foram 105 reportagens. Muitos trabalhos de alta qualidade, que representaram um desafio importante para nossos jurados.

Em um ano em que a palavra de ordem é "adaptação", jornalistas tiveram dificuldades de ir pessoalmente onde a notícia estava, especialmente no exterior. Mas isso não os impediu de fazer coberturas excelentes e centrada nas vítimas – a tecnologia acabou sendo uma aliada. Nosso prêmio também contou com ajustes importantes, como a abertura para reportagens de temas nacionais relacionados à pandemia e também a parceria com a Agência da ONU para Refugiados sobre refúgio e apatridia. Mesmo esta cerimônia, feita de maneira virtual, longe fisicamente de vocês, é um sinal da flexibilidade que este momento nos impõe.

Parabéns aos inscritos nesta edição do Prêmio CICV de Cobertura Humanitária e especialmente às equipes finalistas do canal de notícias CNN Brasil, do podcast Elas com Elas, do jornal Folha de São Paulo, e dos portais G1 e Metrópoles!

Falando de fotografia, certa vez Robert Capa, um ícone na cobertura de guerras, sintetizou de maneira brilhante o seguinte: "Se suas fotos não estão boas o bastante, você não está perto o bastante".

Ele estava falando de fotografia, mas eu tomo a liberdade de adaptar para o jornalismo e dizer que vocês, finalistas, verdadeiramente chegaram perto o bastante da notícia!

Boa noite!