Pesquisa global revela forte apoio às Convenções de Genebra, mas crescente indiferença à tortura

05 dezembro 2016

Genebra (CICV) – Com a intensificação dos confrontos próximo à cidade síria de Aleppo, uma nova pesquisa, publicada hoje, sobre como as pessoas no mundo percebem diversas questões relacionadas com a guerra, indica um apoio esmagador à crença de que as guerras devem ter limites. Também revela opiniões preocupantes com relação à tortura e às vítimas civis.

A enquete com mais de 17 mil pessoas foi realizada entre junho e setembro, em 16 países. Dez desses países estavam passando por um conflito armado no momento da pesquisa, incluindo Iraque, Afeganistão e Sudão do Sul. Os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (P5: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia) também fizeram parte da maior pesquisa dessa natureza realizada pelo CICV.

Oito em cada dez pessoas entrevistadas acreditam que os combatentes devem evitar os civis, sempre que possível, quando atacam os inimigos. O mesmo número de pessoas considera que atacar hospitais, ambulâncias e profissionais de saúde, para enfraquecer um inimigo, está errado.

No entanto, um total surpreendente de 36% dos entrevistados acredita que os combatentes inimigos capturados podem ser torturados com o objetivo de se obterem importantes informações militares. Somente um pouco menos da metade das pessoas (48%) entrevistadas este ano acreditam que esse comportamento está errado, em comparação com os 66% dos participantes da enquete de 1999. Dos entrevistados, 16% declarou não saber.

"Em momentos conturbados, é gratificante ver que a maioria das pessoas acredita que as normas da guerra são importantes, que os combatentes devem respeitar os civis e que todos têm direito à assistência à saúde durante um conflito. Esse reconhecimento dos valores humanos básicos, que aparecem de maneira mais pronunciada em países que estão passando por um conflito armado, é uma tendência contrária às terríveis violações que vemos diariamente no nosso trabalho", afirmou o presidente do CICV, Peter Maurer.

"Os resultados também mostram que precisamos retraçar uma linha divisória: a tortura, em qualquer forma, está proibida. Demonizamos os nossos inimigos por nossa própria conta e risco. Até mesmo nas guerras, todos merecem ser tratados com humanidade. Usar a tortura desencadeia uma espiral para o fundo do poço. O impacto é devastador para as vítimas e brutaliza sociedades inteiras por gerações."

A pesquisa indica que se a pessoa mora em um país afetado por conflito ou nos arredores, ela tende a responder de maneira mais humana às perguntas relacionadas com as normas da guerra. Nos países P5, as pessoas parecem estar mais resignadas com as vítimas civis e o sofrimento como uma parte inevitável da guerra:

  • 78% das pessoas que vivem em países afetados por conflitos armados afirmam que está errado atacar os combatentes inimigos em áreas povoadas, sabendo que muitos civis poderão ser mortos. Nos países P5, somente 50% das pessoas pensam assim.
  • 26% das pessoas nos países P5 acreditam que privar a população civil de alimentos, água e remédios para enfraquecer o inimigo é simplesmente "parte da guerra", comparados com 14% em países afetados por conflitos.

"Diante de imagens constantes e repugnantes das linhas de frente no mundo todo, não devemos perder a nossa empatia e ficar atônitos frente ao sofrimento humano", afirmou Maurer. "Mas a poderosa mensagem desta pesquisa é que as pessoas realmente acreditam na importância do Direito Internacional Humanitário, incluindo as Convenções de Genebra e a proteção dos civis durante os conflitos".

As quatro Convenções de Genebra e os seus Protocolos Adicionais buscam limitar os efeitos da guerra sobre as pessoas que não participam das hostilidades, como civis ou combatentes feridos e capturados.

"A efetividade e a relevância das normas da guerra estão sendo questionadas, talvez, mais do que em qualquer outro momento da história recente", acrescentou Maurer. "Ainda assim, está claro que as pessoas não acreditam em um campo de batalha onde vale tudo. A pesquisa mostra que existe uma desconexão entre o público, que acredita que atacar os civis, hospitais e profissionais de saúde é inaceitável, e as políticas e ações dos Estados e grupos armados".

Para conhecer os resultados completos da enquete "Vozes da Guerra", visite www.icrc.org/pt/document/vozes-da-guerra

Para mais informações ou para agenda entrevistas, entre em contato com:
Iolanda Jaquemet, CICV Genebra, +41 79 217 32 87
Ewan Watson, CICV Genebra, tel: +41 22 730 3345 ou +41 79 244 64 70; Twitter: @EWatsonICRC