Programa de Acompanhamento
Enquanto trabalhava com os dados publicados no relatório Ainda? Essa é a palavra que mais dói, o CICV realizou um programa de acompanhamento a familiares de pessoas desaparecidas, em um formato de piloto.
Quando fizemos o relatório, vimos que as consequências dos desaparecimentos eram tão graves, que precisávamos ajudar a responder às necessidades daquele grupo que entrevistamos, enquanto trabalhávamos para sensibilizar autoridades e outras instituições a criar serviços de referência aos familiares de pessoas desaparecidas. No Brasil, é grande a quantidade de casos de pessoas desaparecidas e as necessidades das suas famílias são específicas e prejudicam todas as áreas da sua vida, muitas vezes levando ao adoecimento e à morte. Por isso, apoiamos diversas iniciativas voltadas a construir políticas e serviços adequados
Com um grupo estendido, os membros de 36 famílias participaram de diversas atividades, presenciais e online, entre os anos de 2019 e 2021. Coordenadas pelo CICV, essas atividades contaram com o apoio de instituições parceiras e especialistas em diversas áreas, como saúde, atenção psicossocial, assistência jurídica, comunicação, geração de renda, formação de coletivos etc. Os resultados alcançados, com o fortalecimento dos participantes e criação de laços entre eles, mostraram o quão importante é a formação de grupos de apoio. Em 2021, muitas atividades on-line foram realizadas.
"Com as atividades do programa de acompanhamento, os familiares de pessoas desaparecidas foram também estimulados a formarem uma rede de apoio entre eles, assim como em suas famílias e comunidades. Diante este contexto, familiares de pessoas desaparecidas podem se sentir sozinhos e isolados. Portanto, é importante que possam criar ou fortalecer espaços e laços de confiança e apoio para lidarem com as adversidades enfrentadas diante o desaparecimento de um ente querido", completa a coordenadora do Programa de Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Delegação, Renata Reali.
"Eu sou sozinha na minha casa e esses encontros me encheram de alegria, me encheram de paz e de felicidade", diz Francisca Ribeiro, mãe de Hugo, que está desaparecido. "O CICV se tornou a nossa segunda família. A família que nos trouxe muito mais amor, que nos abraçou e que nos fez dar o salto do primeiro grau ao segundo grau", completa.
Francisca Ribeiro, familiar de pessoa desaparecida acompanhada pelo CICV. Foto: Tiago Queiroz/CICV
O programa de acompanhamento, encerrado em dezembro de 2021, será sistematizado pelo CICV, para que a experiência possa ser oferecida para outras instituições, como uma ferramenta de trabalho. "Vamos trabalhar para que esse aprendizado possa ser compartilhado, assim como fizemos com o relatório. Queremos divulgar a experiência da atenção a um grupo de apoio mútuo entre familiares de pessoas desaparecidas", explica Larissa Leite.
Debora Alves, mãe de Kaio, que está desaparecido, chama a atenção para a importância da união e da empatia com as famílias. "Esse programa ensinou a gente a se unir. Que a gente tem que ter união para poder ir atrás do que a gente precisa, né? E que sozinho ninguém consegue fazer nada. E o carinho que pessoas que não estão na nossa realidade, acabam tendo com a gente", afirma.
Entre atividades de acolhimento — formativas e informativas—, o CICV proporcionou às famílias um livro de memórias, onde cada página foi dedicada a uma pessoa desaparecida. "Para as famílias preservar a memória é uma maneira de reconhecer o direito à busca, do direito de saber", resume a coordenadora de Proteção adjunta.
Outro exemplo de atividade realizada com as famílias foi realizada uma oficina de comunicação para mais de 40 pessoas, entre julho e setembro de 2021. Durante as atividades, os participantes foram incentivados a desenvolver, de forma autônoma, habilidades de comunicação para aperfeiçoar o uso das redes sociais, compreender armadilhas de conteúdos falsos e se preparar para lidar com a imprensa e autoridades importantes para a causa.