Tanzânia: em meio a um mar de refugiados, uma família é reunida

19 junho 2015
Tanzânia: em meio a um mar de refugiados, uma família é reunida
Refugiados recém-chegados do Burundi registrados por um membro da Cruz Vermelha no campo de refugiados de Nyagurusu em Mekere, Tanzânia. CC BY-NC-ND / CICV / Kate Holt

Augustine Minani pensou que nunca mais voltaria a ver os filhos de novo. Temendo pela sua vida depois dos ataques mortais que atingiram o seu bairro no Burundi, este homem de 31 anos e a esposa fugiram de casa. Mas os seus dois filhos pequenos, Brighton e Bruce, ficaram para trás.

"Eles estavam na casa do meu irmão mais velho na noite do ataque e não pude buscá-los para que eles viessem conosco", contou Augustine. "Os meus vizinhos foram mortos pelos soldados e eles agora estavam me procurando. Como tenho instrução, queriam me recrutar, mas eu sabia que nunca poderia juntar-me a eles".

Augustine e a esposa caminharam durante cinco dias, atravessando do Burundi até a Tanzânia, onde se instalaram no campo de refugiados de Nyagurusu. Mais de 50 mil refugiados agora vivem em Nyagurusu por medo de que a violência política que desatou no período que antecede as eleições presidenciais possa afetá-los.

Cerca de 60% dos refugiados em Nyagurusu são crianças. Quis o acaso que duas dessas muitas crianças fossem os filhos de Augustine.

Refugiados que fugiram da violência em curso no Burundi amanhecem no campo de refugiados de Nyagurusu em Mekere, Tanzânia. CC BY-NC-ND / CICV / Kate Holt

Três semanas já haviam passado sem notícias de Brighton, de 6 anos, e Bruce, de 2. Mas o projeto de Restabelecimento de Laços Familiares administrado pela Cruz Vermelha da Tanzânia, com o apoio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), conseguiu reuni-los.

"Assim que cheguei, tentei entrar em contato com a Cruz Vermelha para dizer-lhes que tinha perdido os meus dois filhos", contou. "Perguntei como eu podia me reencontrar com os meus filhos e eles me contaram sobre o programa de busca. Então, lhes dei o telefone do meu irmão. Um dia recebi um telefonema da Cruz Vermelha, dizendo que eles tinham duas crianças e se poderia ir ver se eram as minhas".

"Eram eles! Fiquei tão feliz ao vê-los! Eles me abraçaram tanto. Chorávamos de alegria. Rezei a Deus e lhe agradeci pela existência desse programa de busca", contou Augustine. "Pensei que nunca mais os veria porque não conseguia entender como eles fariam para chegar a mim. Eles estavam tão longe".

Restabelecimento de laços familiares

Consolate Manirakiza, que fugiu da violência em curso em Burundi, procura informações em um quadro de notícias da Cruz Vermelhaa para pessoas que buscam famílias desaparecidas no campo de regugiados de Nyagurusu, em Mekere, Tanzânia. CC BY-NC-ND / CICV / Kate Holt

A iniciativa Restabelecimento de Laços Familiares do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho trabalha no mundo todo para localizar famílias separadas e para restabelecer o contato entre parentes. O Movimento pode ajudar a restabelecer e manter o contato entre familiares em situação de conflitos armados, outros tipos de violência, desastres naturais ou causadas pelo homem e migrações.

Desde o início do fluxo de habitantes do Burundi na Tanzânia, a Cruz Vermelha da Tanzânia, com o apoio do CICV, facilitou mais de oito mil telefonemas e realizou mais de 217 reuniões de famílias no campo de Nyagurusu.

Uma mulher e sua criança registram um parente desaparecido na Unidade de Restabelecimento de laços familiares no campo de refugiados de Nyagurusu em Mekere, Tanzânia. CC BY-NC-ND / CICV / Kate Holt

O nosso trabalho é importante porque muitas pessoas estão separadas e não têm meios para se comunicarem e precisam de ajuda para entrar em contato com as suas famílias", afirma Rosette Nduwimana, uma das 25 voluntárias da Cruz Vermelha da Tanzânia no programa de Restabelecimento de Laços Familiares em Nyagurusu. "Lidamos principalmente com crianças que tentam encontrar as suas famílias e para apoiá-las".

Uma dessas crianças é Kemneze Honorine, de 17 anos, cuja vida foi desestruturada durante a última onda de violência no Burundi. "Fui para a escola com alguns dos meus irmãos e irmãs e os soldados chegaram e mataram uma pessoa", relata. "Quando voltamos para casa nessa tarde, os nossos pais não estavam. Eles tinham fugido com o nosso outro irmão e a outra irmã. Não sei se eles ainda estão vivos". O programa de Restabelecimento de Laços Familiares está trabalhando para encontrar os pais de Kemneze e, assim, reunir a família.