Debate em Brasília trata de ataques a profissionais e estabelecimentos de saúde
Os constantes ataques a hospitais, ambulâncias e equipes médicas em áreas de conflito armado e de emergências estão causando uma erosão nos sistemas de saúde dos países afetados. O alerta foi dado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), no Auditório do Museu Nacional do Conjunto Cultural da República de Brasília.
“Estamos cientes de que os médicos são pressionados pelas condições de trabalho e pela violência em áreas críticas e de conflito, no entanto, temos que assegurar que eles possam desenvolver seu trabalho de atendimento aos feridos e doentes segundo as bases éticas estabelecidas pela profissão que garantem seu pleno exercício”, afirmou Rilito Povea, gerente da campanha internacional "Assistência à Saúde em Perigo" do CICV, na última quinta-feira, dia 25 de setembro, a uma plateia formada por diplomatas, representantes das Nações Unidas, médicos, militares, estudantes e autoridades do governo brasileiro.
Rilito Povea ressaltou que a violência recai em maior parte sobre os profissionais locais. Um estudo realizado em 2012 e 2013, em 23 países onde o CICV atua, registrou 1809 incidentes de violência contra profissionais, pacientes, ambulâncias e estabelecimentos de saúde. Sendo que 90% dos afetados são trabalhadores do país, e não estrangeiros. Uma parte dos ataques é realizada pelas forças de segurança (31%) e outra, por grupos armados não estatais (32%) e indivíduos que não formam nenhum grupo (14%).
Em 2000, o Sindicato dos Médicos de São Paulo (SIMESP) realizou um estudo com médicos da Grande São Paulo que apontou que 41% deles estiveram expostos a violência por três ou mais vezes, sendo que nos hospitais públicos esta exposição é três vezes maior do que nos hospitais privados. A situação, segundo o levantamento, se repete com maior frequência nos serviços de pronto-atendimento (62%).
Já a enfermeira Angela Alvarez relatou casos de profissionais impedidos de trabalhar por causa de ameaças de morte e a consequente falta de atenção à saúde da população, em especial às comunidades mais carentes.
Alexandre Teixeira Trino informou que o MS está mapeando as áreas de risco para os profissionais da saúde. “A identificação dessas áreas permitirá qualificar médicos, enfermeiros, pessoal administrativo de hospitais e postos de saúde para que saibam relacionar-se com as comunidades e mitigar os riscos gerados por atores responsáveis pela violência, de modo a buscar formas de garantir um atendimento ético à população”, afirmou. O MS prevê uma atenção prioritária aos territórios mais vulneráveis com baixos indicadores sociais, e que estão expostos à violência.