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Trabalho em rede na ação humanitária forense é essencial para identificação de pessoas

Coordenação regional entre profissionais forenses é destaque em evento durante o Dia Internacional das Pessoas Desaparecidas

Você já imaginou procurar um ente querido desaparecido em outro país e não ter nenhuma informação sobre o paradeiro dele?

No Brasil, a Polícia Federal conseguiu, por meio da Rede Ibero-americana de Instituições de Medicina Legal e Ciências Forenses, ajudar a identificar um homem desaparecido que havia sofrido um afogamento no estado do Ceará por meio de uma tatuagem de um time de futebol. Identificaram que equipe era, e assim a equipe forense local contactou o representante da Rede brasileiro, quem por sua vez contatou seu contraparte argentino para, juntos, conseguiram dar respostas aos familiares.

"A família já o buscava sem nenhum sinal, nenhum registro de onde ele se encontrava. E assim funcionou, de fato, a rede. A gente vê uma imensa perspectiva de que isso auxilie no encontro de pessoas desaparecidas e outras tantas questões médico-legais", comentou Rodrigo Travassos, perito da Polícia Federal que representa o Brasil na Rede Ibero-americana.

Trabalho em equipe para dar respostas

A importância dessa coordenação regional em prol de dar respostas ao desaparecimento de pessoas foi um dos temas abordados durante o XV Encontro da Rede Ibero-americana, que contou com a participação de representantes de 16 países, que aconteceu entre os dias 28 e 30 de agosto em Brasília.

"Sem maior burocracia, conseguimos acessar nossos registros na Polícia Judicial da Província de Córdoba, que tem acesso aos registros nacionais de impressões digitais, e com uma gestão muito simples, e em pouco tempo, pudemos intentificá-las. Assim nossos colegas do Brasil conseguiram dar uma resposta muito rápida e eficiente à família dessa pessoa", detalhou Moises David Dib, Chefe do Instituto de Medicina Forense de Córdoba, na Argentina.

Os participantes da rede também estiveram presentes em um dos maiores eventos de Ciências Forenses do mundo, a InterForensics, trazendo perspectivas regionais e temáticas humanitárias, tendo como objetivo aperfeiçoar o trabalho forense e o respeito à dignidade das pessoas falecidas.

"As conversas são ao nível de políticas públicas, protocolos, regulamentações e todos os processos forenses que possam de alguma maneira somar esforços para identificar, buscar e recuperar as milhares de pessoas que estão desaparecidas e falecidas", destacou Alejandra Jimenez, Coordenadora Regional Forense do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Para o Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (Portugual) y ex-presidente da Rede, Duarte Nuno Vieira, o trabalho em conjunto traz inúmeras vantagens e facilita identificações que de outra forma não seriam possíveis.

"Quando se está em discussão, por exemplo, a identificação de vítimas das quais não dispomos de muitos elementos, e que muitas vezes vieram de outros países, esse trabalho permite um intercâmbio de informações entre as instituições. Temos múltiplos exemplos práticos, como foi essa situação muito recente no Brasil", salientou Vieira.

Processos padrão na região

O presidente da Rede fez um resumo das conclusões do encontro, que excedeu o tema da busca e também explorou outras questões humanitárias, como migração, violencia sexual e detenção.

"No encontro da Rede, tentamos materializar muitos dos propósitos que nos emanam como instituições de medicina legal na região, principalmente nas problemáticas comuns que tem um grande impacto humanitário", apontou Jorge Arturo Jiménez Pájaro, presidente da Rede e diretor geral do Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses da Colômbia.

"É necessário adicionalmente gerar um padrão de processo, e para isso, a Rede gerou um documento técnico onde se explana sobre a importância que tem o uso do Protocolo de Estambil. Reafirmamos a possibilidade de seguir trabalhando, crescendo a cada dia, no posicionamento e fortalecimento da medicina legal na região", concluiu.

No Brasil, o CICV trabalha junto as autoridades no apoio de suas capacidades da gestão de pessoas falecidas não identificadas, oferecendo recomendações técnicas e promovendo intercâmbios de boas práticas.

Saiba mais sobre o XV Encontro da Rede Ibero-americana de Instituições de Medicina Legal e Ciências Forenses.