Líbano: dar próteses e esperança aos amputados sírios

30-10-2013 Reportagem

O conflito e a violência que tomam conta da Síria há mais de dois anos deixaram muitos sírios com deficiências físicas. Alguns foram ao Líbano em busca de reabilitação física e de membros artificiais. O CICV apoia essas pessoas com o fornecimento de próteses de membros superiores e até mesmo olhos artificiais.

Agora, Alaa pode voltar a dar um aperto de mão com a mão direita. Para este refugiado sírio, que perdeu o membro superior durante o conflito que está destroçando o seu país, esse é um bom motivo para sorrir. O jovem de 21 anos recebeu recentemente uma prótese para o braço fornecida pelo CICV em um centro ortopédico em Trípoli, norte do Líbano. Mais de três meses depois que o seu braço foi decepado por uma granada que explodiu no seu bairro, na cidade de Qussair, Alaa pode se sentir relativamente normal de novo.

“Certamente, não é como um braço normal… A prótese é estática, mas me ajuda a realizar algumas tarefas mais simples, como carregar coisas leves, segurar o telefone, apertar um botão, etc.”, disse, mostrando o seu “novo braço”.

Alaa faz parte do elevado número de sírios feridos de guerra que buscam assistência médica e reabilitação física no Líbano devido à falta de serviços como esses no seu país ou à dificuldade para ter acesso aos mesmos.
 

“O meu braço foi completamente arrancado quando fui atingido pela granada... Fui operado em um hospital de campanha primeiro, depois vim para o Líbano para receber um tratamento prévio à colocação da prótese”, disse Alaa. “Graças a Deus, não posso reclamar agora, embora para o futuro eu gostaria de uma prótese mioelétrica”, disse. Ele viajou até o Líbano com a sua mãe e os dois planejam voltar para casa uma vez que o seu tratamento tenha terminado. “Quero voltar para a Síria… Mesmo sabendo que corro o risco de perder o outro braço”, acrescentou Alaa.
 

Este ano, Alaa e outros 13 sírios com ferimentos ou deficiências físicas causados pelo conflito armado no seu país receberam membros superiores e olhos artificiais fornecidos pelo CICV no Líbano como parte da assistência que a organização proporciona aos feridos de guerra da Síria. Está previsto que outros quatro pacientes recebam membros artificiais.

Confecção e colocação de próteses

O técnico em ortopedia Ahmad al-Masri explica que o processo de produção e colocação de próteses pode levar até três semanas. Ele conta que a pessoa ferida deve estar completamente cicatrizada antes de se tomarem as medidas prévias à confecção do membro artificial propriamente dito.
 

“Nos últimos 18 meses, colocamos próteses em cerca de cem sírios com deficiências físicas causadas pela guerra neste centro. A maioria tinha os membros inferiores amputados, obviamente, feridas causadas por minas terrestres ou outros resíduos explosivos de guerra”, disse al-Masri. “Ainda há milhares de pessoas com amputações causadas pela guerra que aguardam a sua vez de receber membros artificiais, mas isso está se tornando cada vez mais difícil de garantir, sobretudo para as pessoas que não podem pagá-la, devido à escassez de recursos”, acrescentou al-Masri.

Tarek, de 25 anos, está entre as pessoas que receberam uma prótese. Ele sofreu dois ferimentos que implicaram a amputação do seu antebraço direito.
 

“Fui ferido em fevereiro, mas somente agora pude receber a prótese”, disse. “Embora seja mais por estética, o membro artificial fará uma diferença na minha vida... Sinto como se pudesse agir e viver com muito mais normalidade agora... Até o momento, guardava a manga das minhas camisas dentro do bolso para não sofrer a rejeição das pessoas, nem assustar as crianças”, acrescentou.
 

O CICV proporciona próteses de membros superiores para sírios com deficiências permanentes causadas pela guerra. “Lidamos com muitos pacientes com braços ou pernas amputados ou com paralisias decorrentes de ferimentos causados por armas. Mas estamos proporcionando membros superiores artificiais, assim como olhos para os pacientes, cuja maioria é jovem, e isso é muito triste”, disse Janet Askew, que faz parte da equipe de saúde do CICV no Líbano.