Página arquivada:pode conter informações antigas

Terremoto no Haiti: Marie Yolaine perdeu quase tudo

02-02-2010 Reportagem

Marie Yolaine perdeu nove familiares no terremoto. Um de seus dois filhos que sobreviveram desapareceu misteriosamente e seu corpo foi encontrado no dia seguinte. Ela foi à Cruz Vermelha Haitiana para pedir ajuda. Simon Schorno, porta-voz do CICV, conta sua história de Porto Príncipe.

     

    ©CICV/M. Kokic/ht-e-00575      
   
    Mais de 20 mil pessoas estão vivendo em abrigos improvisados na praça de Champ de Mars, em Porto Príncipe, devido à devastação causada pelo terremoto. Foi aqui que Marie Yolaine e seu filho encontraram refúgio.      
         

Uma jovem e seu filho nos esperam no centro de logística da Cruz Vermelha Haitiana, um complexo de hangares empoeirados no coração de Porto Príncipe. Marie Yolaine nos contatou quando ouviu que poderíamos ajudá-la. Quando aconteceu o " evento " , como os haitianos agora chamam o terremoto de 12 de janeiro, ela estava em casa com toda sua família. Dois de seus filhos, sua mãe, seu marido, quatro irmãos e uma tia foram mortos. Apenas Marie Yolaine e ou tros dois filhos sobreviveram.

Com sua voz suave e monótona, Marie Yolaine explicou que os três seguiram para Champ de Mars, onde mais de 20 mil pessoas se estabeleceram em barracas improvisadas, próximo às ruínas do que um dia fora o palácio presidencial. Naquela noite, seu filho mais novo, de apenas três anos, desapareceu enquanto ela dormia na rua.

Os olhos de Marie Yolaine de encheram de lágrimas, mas ela as segurava. Com extrema dignidade, continuou. Contou à funcionária do CICV, Ginou Pierre, de outras crianças que haviam desaparecido – um rumor que Ginou já havia ouvido várias vezes desde que aconteceu o " evento " , há duas semanas. Poucos dias depois desse encontro com Marie Yolaine, eles descobriram que ela havia encontrado o corpo de seu filho na manhã seguinte sobre uma pilha de lixo.

  Contato com seu pai  

Sua única criança agora é Kenté, seis anos, que fora retirado dos escombros três dias depois do terremoto. Ele olhava assustado para a mãe e não disse uma palavra enquanto estava agarrado a seu braço, nunca se afastando dela. Ela queria entrar em contato com seu pai, que mora na Guiana Francesa. Ademais de seu filho, seu pai é a única família que lhe restou agora, mas a única vez que se falaram foi por apenas alguns minutos por telefone e isso fora antes do terremoto. Ela nunca o conheceu.

Marie Yolaine nos deu um número anotado em um envelope amarelo e Ginou ligou seu telefone via satélite. " Sou da Cruz Vermelha e sua filha está conosco " , disse, antes de passar o telefone para jovem. A conversa durou vários minutos. Só entendi algumas palavras. " Estou viva " , disse Marie Yolaine, sem um sorriso. Parecia que seu pai lhe dizia que organizaria tudo para que ela e seu filho fossem encontrá-lo na Guia na.

Nós nos afastamos depois que anotamos a informação que nos permitiria encontrar Marie Yolaine para que ela falasse outra vez com seu pai dentro de alguns dias. Ginou e eu voltamos para nosso carro muito contentes e saímos do galpão, em silêncio e cabisbaixos.