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Zimbábue: o longo caminho para dar a luz

25-03-2008 Reportagem

Mona-Lisa nasceu com boa saúde. Sua mãe teve que caminhar por mais de 15 quilômetros, grávida de nove meses, para chegar a um hospital. O CICV está ajudando 16 instalações de assistência médica em três distritos rurais para ajudar ao doente sistema de saúde do Zimbábue. Robin Waudo nos conta.

     

    ©ICRC / R. Waudo      
   
O bebê Mona-Lisa com sua mãe, Sekia, no hospital de Chishave tomando vacina e fazendo uma revisão médica.  
         

Sekai Zhou, 26 anos, chegou ao hospital rural de Chishave numa linda manhã de segunda feira carregando sua filhinha de cinco meses, Mona-Lisa. O neném estava bem e foi levado ao hospital para tomar as vacinas de rotina e fazer um check-up. A mãe acariciava seu bebê enquanto esperava pacientemente pela sua vez de ser atendida pelos enfermeiros. Ao ser atendida, a menina tomou a vacina e gritou de dor. Sekai então, a balançou nos seus braços e cantou uma música suave para aliviar a dor da filha.

A jovem mãe vem da vila de Chinjiva, a 15 km do Hospital Rural Chishave. Já que não há outra instalação médica perto da sua vila, ela teve que caminhar esta longa distância para chegar ao hospital já que não podia pagar a passagem do ônibus. A viagem levou várias horas e se fazia mais longa que o normal à medida que a hora de dar a luz se aproximava.

  Abrigo para as grávidas está em ruínas  

" Por cinco meses, eu caminhei esta longa distância entre a clínica e minha casa. Quando chegava a casa, estava exausta e minhas pernas inchadas e doloridas”, ela lamentou.

Durante o ultimo mês de gravidez, Sekai teve a grande sorte de conseguir um lugar no abrigo para as mães no hospital rural. Entretanto, este abrigo está em ruínas, não tem camas, precisa de pintura e o teto está caindo.

Mona-Lisa nasceu sem complicações em outubro de 2007. “Os enfermeiros foram muito prestativos e minha filha nasceu saudável graças ao bom trabalho deles”, relembra.

Ela tem outros dois filhos, um menino de cinco anos e uma menina de três anos. Ambos nasceram no mesmo hospital rural. Sekai mora com a sua família numa pequena vila onde planta milho, sorgo e vegetais para alimentar a família. O marido dela trabalha em Chiredzi, uns 100 km de distância da família e a visita uma vez por mês.

O hospital rural de Chisave está localizado na província de Masvingo, no sul do Zimbábue, mais de 350 km da capital Harare. O hospital é o único centro de saúde em um raio de 20km. Fornece serviços de saúde para uma população de mais de 14.000 pessoas que lutam contra os desafios e dificuldades trazidos pela difícil situação econômica que o país está enfrentando. Com uma equipe de seis enfermeiros, um técnico em saúde ambiental e um vigia, a capacidade do hospital está mais além de seus limites de for necer serviços médicos básicos.

  Hospitais estão enfrentando ‘muitas dificuldades’  

A filha de Sekai foi uma das 478 crianças nascidas no hospital em 2007. A irmã Shupikai Nyamakawo é a enfermeira encarregada do Hospital Rural Chishave e ajudou o bebê a nascer.

" Embora o bebê tenha nascido sem maiores dificuldades, o hospital está enfrentando muitas dificuldades”, ela disse. Faltam lençóis para o parto e, geralmente, para casos de maternidade. As grávidas devem trazer seus próprios lençóis, ela explica.

Embora Sekai tenha aplaudido o comprometimento e a dedicação da equipe do Chishave, ela disse que em algumas vezes não havia medicamentos e ela teve que ir ao hospital mais vezes do que o necessário para receber o tratamento. A disponibilidade inadequada de medicamentos foi citada por médicos no distrito.

O CICV suplementa o fornecimento de muitos medicamentos, além de materiais médicos e descartáveis como: lençóis, faixas, luvas de látex, mascaras, dentre outros. “O impacto da ajuda do CICV é mais do que bom”, exclamou a irmã Shupikai.

Além da necessidade por medicamentos e materiais médicos, a irmã Shupikai identificou a falta de água como sendo o grande problema responsável pelo aumento de doenças como a esquistossomose. “... o hospital não tinha água antes, mas agora temos um poço, e mais grávidas estão vindo para dar a luz”, disse ela.

  Melhorando o acesso à água limpa  

O CICV abriu um poço e instalou uma bomba manual no Hospital Rural Chishave em 2007. A enfermeira encarregada aludiu ao fato que devido à falta de água em algumas instalações e até mesmo no hospital da região, as grávidas preferem vir ao Chishave.

Além d isso, a disponibilidade de água no hospital é a responsável pela diminuição dos partos em casa durante o ano de 2007, que contaram somente 16, apesar de que houvesse umas 30 parteiras no distrito, ela explicou.

O CICV está ajudando 16 instalações rurais de assistência médica em três distritos rurais do Zimbábue, são eles: Chivi, Makoni e Tsholotsho. O Hospital Rural de Chishave está localizado no Distrito de Chivi. A organização também melhora o acesso à água limpa nestas instalações abrindo mais poços e equipando-os com bombas manuais ou consertando as existentes, como também instalando tanques para o armazenamento de água.