Zimbábue: fortalecendo a ação humanitária contra as minas

16-07-2012 Entrevista

Mais de 1,5 milhão de minas antipessoais ainda estão espalhadas em toda a região do Zimbábue que faz fronteira com Moçambique. Desde 1980, elas já mataram mais de 1,5 mil pessoas e 120 mil cabeças de gado. Michael Berril é especialista do CICV em combinação de armas em Harare. Ao terminar a sua missão no país, ele explica como a iniciativa entre o CICV e o governo zimbabuense aumentará os esforços para limpar as áreas contaminadas por minas antipessoal e melhorar a vida das pessoas nas comunidades.

Qual é o impacto humanitário das minas antipessoal no Zimbábue?
 

Essas minas antipessoal são um legado da guerra de liberação da década de 70. Assim como matar e ferir as pessoas e o gado, elas impedem que os agricultores tenham acesso à terra que é vital para as comunidades rurais. Segundo o Centro de Ação contra as Minas do Zimbábue (ZIMAC), as minas antipessoal já mataram mais de 1,5 mil e 120 mil cabeças de gado desde 1980. E eles estimam que haja de 1,5 milhão a 1,8 milhão de minas antipessoal que ainda precisam ser retiradas do Zimbábue. Ações de desminagem realizadas entre 1980 e 2000 eliminaram uma quantidade significante de minas. Desde então, o governo zimbabuense continua realizando as ações de desminagem, mas em áreas menores e com recursos humanos e técnicos muito limitados.
 

O que é a ação humanitária contra as minas?
 

A ação humanitária contra as minas envolve a descontaminação de áreas infestadas de minas antipessoal de modo a reduzir os efeitos devastadores que as mesmas têm sobre as vidas das pessoas. Usamos as melhores práticas de desminagem em termos de treinamento, equipamento e gestão de qualidade para alcançar este objetivo.
 

Qual é o papel do CICV na ação humanitária contra as minas?
 

O CICV está envolvido na ação humanitária contra as minas em diversos países onde as minas antipessoal e outros resíduos explosivos de guerra são um problema. Estamos trabalhando na Colômbia, no Iraque e em diversos países, assim como no Zimbábue. Todos os países que assinaram a Convenção de Banimento de Minas Antipessoal, incluindo o Zimbábue, têm a obrigação de descontaminar e destruir as minas antipessoal, e o CICV trabalha com os governos para reduzir as consequências humanitárias desses artefatos.
 

Qual era o seu trabalho no Zimbábue?
 

O meu trabalho era implementar o acordo entre o governo zimbabuense e o CICV sobre a ação humanitária contra as minas. O objetivo do acordo era melhorar as habilidades, a capacidade e o equipamento dos funcionários do ZIMAC, de forma que o governo possa atender as suas obrigações segundo a Convenção de Banimento de Minas Antipessoal para descontaminar e destruir todas as minas antipessoal no país. Oferecemos treinamento em padrões internacionais para 39 oficiais do Exército Nacional do Zimbábue que estão envolvidos na desminagem humanitária, com o objetivo de melhorar a segurança, a qualidade e a produtividade das operações de desminagem. Também facilitamos a entrega de material médico e equipamentos de desminagem para o ZIMAC.
 

Como o senhor realizou o treinamento?
 

Durante um período e nove semanas, o CICV e o ZIMAC realizaram um programa de palestras, exercícios no terreno, missões e provas. Treinamos oficiais nos atuais Padrões Internacionais de Ação contra as Minas (IMAS), lhes ensinamos os procedimentos que permitem as operações de descontaminação para incorporara os IMAS em todos os níveis. Também seria muito perigoso realizar o treinamento nas áreas contaminadas pelas minas, portanto montamos um ambiente de treinamento muito próximo da realidade em um lugar ao norte, na periferia de Harare, usando minas antipessoal de mentira feitas de madeira e metal. Os oficiais podiam aplicar as habilidades que haviam aprendido, usando os detectores de metal para localizar as minas de mentira.
 

A sua saída implica o fim da cooperação entre o CICV e o ZIMAC?
 

Claro que não! O acordo entre o CICV e o governo continuará durante todo o ano. Continuaremos monitorando o treinamento de desminagem realizado pelos oficiais que treinamos. O nosso gerente do programa de contaminação por armas em Harare treinará os socorristas da Unidade de Desminagem Nacional do Zimbábue a prestarem tratamento de emergência a qualquer profissional de desminagem que venha a se ferir durante as operações.
 

O que acontecerá no final do ano?
 

A principal responsabilidade pela remoção e destruição das minas antipessoal no Zimbábue recai sobre o governo. Estamos satisfeitos de ver que eles conseguiram envolver outras organizações na desminagem, uma vez que isso acelerará o processo, e o CICV está aberto a futuras cooperações com governo. Enquanto isso, esperamos que a assistência técnica e material que estamos oferecendo este ano acelere a desminagem no Zimbábue, melhorando assim as vidas das comunidades atualmente afetadas pelas minas antipessoal.

Foto

 

Michael Berril
© CICV / D. Hove

Zimbábue. Um instrutor faz uma palestra para os oficiais do Exército Nacional do Zimbábue sobre onde eles aplicarão as atividades adquiridas durante o curso do CICV para “treinar os treinadores” sobre a ação humanitária contra as minas. 

Zimbábue. Um instrutor faz uma palestra para os oficiais do Exército Nacional do Zimbábue sobre onde eles aplicarão as atividades adquiridas durante o curso do CICV para “treinar os treinadores” sobre a ação humanitária contra as minas.
© CICV / T. Sengwe / v-p-zw-e-00128

Zimbábue. Um oficial usa um detector de metal para buscar uma mina terrestre de mentira durante um exercício. 

Zimbábue. Um oficial usa um detector de metal para buscar uma mina terrestre de mentira durante um exercício.
© CICV / T. Sengwe / v-p-zw-e-00127

Zimbábue. Uma vez que o oficial tenha encontrado uma mina antipessoal, ele a limpa com uma escova para ver de que tipo é e então informa o seu supervisor. 

Zimbábue. Uma vez que o oficial tenha encontrado uma mina antipessoal, ele a limpa com uma escova para ver de que tipo é e então informa o seu supervisor.
© CICV / T. Sengwe / v-p-zw-e-00129

Zimbábue. No final do curso para “treinar o treinador” voltado para os instrutores de ação humanitária contra as minas, o chefe da delegação do CICV no Zimbábue entrega a cada oficial um certificado. 

Zimbábue. No final do curso para “treinar o treinador” voltado para os instrutores de ação humanitária contra as minas, o chefe da delegação do CICV no Zimbábue entrega a cada oficial um certificado.
© CICV / D. Hove