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Pesquisa do CICV revela impacto perturbador das hostilidades sobre os civis

23-06-2009 Comunicado de imprensa 09/123

Genebra (CICV) – A guerra e a violência armada deixam um número alarmante de vítimas civis nos países atingidos por conflitos em todo o mundo, de acordo com os mais recentes resultados publicados pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) na terça-feira. A pesquisa revela que o deslocamento, a separação de familiares e a falta de acesso às necessidades básicas estão entre as experiências mais comuns e os maiores medos das pessoas.

Entre as pessoas diretamente atingidas por hostilidades, 56% declararam que tinham sido obrigadas a deixar suas casas por causa de combates, enquanto quase a metade afirmou ter perdido o contato com um ente querido. Uma entre cada cinco pessoas declarou ter perdido seu meio de sobrevivência.

Intitulado Nosso Mundo. Perspectivas do terreno, o relatório   analisa as experiências pessoais, as necessidades, preocupações, expectativas e frustrações das populações atingidas por conflitos em oito países: Afeganistão, Colômbia, República Democrática do Congo, Geórgia, Haiti, Líbano, Libéria e Filipinas. Esta pesquisa foi elaborada pela agência de pesquisas Ipsos e será lançada para marcar o aniversário de 150 anos da Batalha de Solferino, em 24 de junho.

" A novidade desta pesquisa é que ela nos dá uma visão mais abrangente de como as vítimas de conflitos armados e violência são atingidas " , afirmou Pierre Krähenbühl, diretor de operações do CICV. " Esses dados representam milhões de pessoas que estão lutando pela sobrevivência de seus filhos, são pessoas que foram ameaçadas e obrigadas a fugir de seus vilarejos ou que vivem sob o constante medo de que alguém de quem elas gostam seja morto, atacado ou desapareça. Isto é muito preocupante " .

No Afeganistão, 76% daqueles que tiveram uma experiência pessoal de conflito armado disseram que foram obrigados a fugir de casa, enquanto 61% afirmaram ter perdido o contato com um parente próximo. Na Libéria, 90% das pessoas declararam que haviam sido deslocadas; no Líbano este percentual é de 61% e na República Democrática do Congo, de 58%. A perda de contato com um parente também foi elevada na Libéria (86%), no Líbano (51%) e na República Democrática do Congo (47%).

O acesso limitado aos serviços, tais como água, eletricidade e assistência médica, veio à tona como um problema generalizado, sobretudo no Afeganistão e no Haiti, onde mais da metade das pessoas diretamente atingidas pela violência armada afirmou ter sofrido a falta dessas necessidades básicas.

Como parte do processo de pesquisa, o CICV conduziu grupos focais nos países atingidos por conflitos para obter uma compreensão mais profunda das experiências de guerra dos cidadãos.

" Ao falar com uma ampla gama de pessoas e escutar realmente o que elas tinham a dizer, pudemos ver a situação através de seus olhos. Isto contribuirá e enriquecerá muito nossa abordagem em relação a como lhes ajudar e a assistir também as demais pessoas que passam por necessidades " , afirmou a vice-diretora de comunicação do CICV, Charlotte Lindsey, que supervisionou a pesquisa.

De acordo com o relatório, as pessoas têm o hábito de pedir mais ajuda a quem vive " mais perto de casa " . Em todos os países onde a pesquisa foi realizada, os entrevistados afirmaram que as suas famílias e comunidades foram as primeiras a lhes dar assistência e entendiam melhor suas necessidades.

" Precisamos fazer o possível para fortalecer a capacidade das comunidades de enfrentar os conflitos armados " , declarou Krähenbühl. " Ao trabalharmos em parceria com as pessoas das áreas atingidas, as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e as autoridades locais, tentamos acompanhar as famílias e comunidades em seu contexto habitual de vida. A pesquisa salienta a importância desta forma de trabalho " .

Planejada para coincidir com o aniversário de 150 anos da Batalha de Solferino, q ue aconteceu em 24 de junho de 1859, a nova pesquisa analisa as " Solferinos de hoje " e seu impacto sobre as populações civis. Mais de 38 mil soldados foram mortos ou feridos em 1859, quando tropas aliadas sardo-francesas se enfrentaram com soldados austríacos no norte da Itália. A batalha levou à criação do CICV, do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e às Convenções de Genebra.

" Quando analisamos Solferino, batalha na qual, segundo as informações, foi morto apenas um civil, e a comparamos aos conflitos atuais no Afeganistão, na República Democrática do Congo, no Iraque, Sri Lanka, na Faixa de Gaza ou na Somália, observamos que hoje a guerra deixa sequelas físicas e emocionais mais generalizadas nos civis " , declarou Krähenbühl. " Isto indica claramente que as partes beligerantes devem respeitar melhor o Direito Internacional Humanitário e as normas da guerra. Os civis e suas propriedades devem ser sempre poupados e protegidos " .

  Outras revelações importantes do relatório  

     

Das mais de 4 mil pessoas analisadas, 44% afirmaram ter passado pela experiência pessoal de um conflito armado. As cifras mais elevadas foram na Libéria (96%), no Líbano (75%), e no Afeganistão (60%).

Cerca de 66% de todos os entrevistados afirmou ter sentido as consequências das hostilidades, mesmo que não se considerassem pessoal ou diretamente atingidos. Isto inclui quase todas as pessoas no Líbano (96%), na Libéria (96%), Haiti (98%) e Afeganistão (96%).

Quase 30% daqueles diretamente atingidos por combates afirmaram que um parente próximo havia sido morto durante os confrontos. Esta cifra demonstrou uma elevação drástica na Libéria (69%) e no Afeganistão (45%). Tanto no Líbano como na República Democr ática do Congo, este percentual ficou em cerca de 25%.

A perda de renda entre as pessoas diretamente atingidas pela violência e pelos conflitos armados foi mais alta no Afeganistão (60%), Líbano (51%) e Haiti (40%). Nos oito países, 18% dos entrevistados declararam que haviam sido feridos nos combates. Além disso, 17% afirmaram terem sido torturados, enquanto 32% declararam que haviam sido humilhados.

  Mais informações:  

  Anna Nelson, CICV Genebra, tel: +41 79 217 3264  

  Michelle Rockwell, CICV Genebra, tel: +41 79 251 9311 (inglês)  

  Marçal Izard, CICV Genebra, tel: +41 79 217 3224 (alemão, espanhol)  

  Hicham Hassan, CICV Cairo, tel: +201 87 42 43 44 (árabe)