Covid-19: pessoas que vivem em zonas de conflito não podem ser esquecidas por iniciativa de vacinação global

Covid-19: pessoas que vivem em zonas de conflito não podem ser esquecidas por iniciativa de vacinação global

As pessoas que vivem em zonas de guerra correm o risco de ser as últimas do mundo a ter acesso às vacinas contra a Covid-19. Dos 25 países com as taxas de vacinação mais baixas do mundo hoje, mais da metade está envolvida em conflitos armados e violência.
Comunicado de imprensa 18 maio 2022 Moçambique

Genebra (CICV) – Antes da Assembleia Mundial da Saúde, o CICV chama a atenção para os milhões de pessoas que continuam em risco por causa da Covid-19: aqueles que convivem com o conflito e a violência armada e que ainda não receberam nenhuma dose da vacina.

"Depois de dois anos, nosso cansaço não pode obscurecer o fato de que a pandemia não acabou e de que novas variantes do vírus, que poderiam ser mortais, continuam sendo uma ameaça real para voltarmos à normalidade e, sobretudo, para vidas humanas", disse Sophie Sutrich, chefe da equipe do CICV de gestão da Covid-19. "A variante Ômicron mostra o que pode acontecer se existirem grandes grupos de pessoas não vacinadas: a replicação viral e o possível surgimento de variantes imunes às vacinas. Só será possível controlar este vírus – e os próximos vírus – se investirmos nos sistemas de saúde e se garantirmos que as iniciativas de vacinação abranjam todas as pessoas, inclusive as que estão em zonas de conflito de difícil acesso."

A OMS estima que a pandemia da Covid-19 causou a morte de quase 15 milhões de pessoas em todo o mundo, um dado estatístico desolador que salienta a urgência de disponibilizar vacinas para todos e de investir nos sistemas de saúde. O conflito armado abala profundamente os sistemas de saúde porque deixa as infraestruturas danificadas ou negligenciadas e complica as cadeias de abastecimento.

Por isso, o CICV facilita a vacinação nas áreas de difícil acesso, ajudando a atravessar as linhas de frente através do trabalho humanitário neutro e colaborando com a logística de transporte e a cadeia de frio. Os desafios inerentes aos países em conflito dificultam a vacinação, tais como a incapacidade para armazenar e manter a cadeia de frio, a falta de eletricidade, a capacidade deteriorada devido ao colapso dos serviços de saúde, a falta de pessoal e a infraestrutura precária, como uma malha rodoviária complicada e subdesenvolvida.

Muitas vezes, os profissionais de saúde em zonas de conflito ficam sob fogo ou são obrigados a fugir. Quando médicos e enfermeiros – e as clínicas e os hospitais onde trabalham – não são protegidos pelas partes em conflito, toda a comunidade sofre. Isso geralmente significa que as pessoas não têm onde procurar atendimento, muito menos vacinas contra a Covid-19.

O CICV trabalha com urgência para que as vacinas cheguem ao braço das pessoas mais vulneráveis e conta com parceiros do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho em todo o mundo para apoiar a vacinação contra a Covid-19 em conflitos armados.

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Exemplos operacionais:

Colômbia:
O CICV negociou em diversas ocasiões para que equipes possam vacinar contra a Covid-19 as comunidades sob influência de grupos armados não estatais.

Myanmar:
Em Myanmar, o CICV apoiou campanhas de vacinação contra a Covid-19 em instalações de saúde perto de zonas fronteiriças.

Moçambique:
O CICV facilita o transporte de vacinas e de equipes de vacinação do Ministério da Saúde em distritos afetados por conflitos na região central e na província de Cabo Delgado, no norte do país.
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Uma campanha para aumentar a conscientização sobre a vacinação em zonas de conflito

Hoje, o CICV lança uma campanha que inclui um vídeo impactante com o objetivo a a conscientização sobre esta questão urgente.

https://www.icrc.org/pt/vacina-covid-trecho-mais-dificil

Esta campanha pretende destacar a situação deplorável das dezenas de milhões de pessoas que vivem nos lugares mais inacessíveis e poderiam ficar de fora dos planos nacionais de vacinação por falta de capacidade e/ou vontade política. Entre elas há pessoas deslocadas, detidas ou que vivem sob o controle de grupos armados não estatais. Hoje, estimamos que mais de 50 milhões de pessoas vivem em áreas controladas por grupos armados não estatais, e a maioria delas não tem acesso às vacinas contra a Covid-19.

Vacina no braço

O CICV acredita firmemente que o acesso às vacinas contra a Covid-19 deve ser incondicional – nenhum aspecto político, financeiro, jurídico ou logístico deve conter os esforços para chegar às pessoas em conflitos e contextos mais frágeis.

Contar com doses de vacina disponíveis é apenas uma parte da solução desta crise. É preciso garantir que a vacina saia da pista do aeroporto e chegue ao braço das pessoas mais vulneráveis. Especificamente, o CICV pede que governos, grupos armados não estatais, fabricantes de vacinas e doadores:

  1. Ajudem a produzir e distribuir mais vacinas para países que enfrentam um conflito armado;
  2. Invistam mais em mecanismos locais de entrega e em capacidade para garantir que as vacinas deixem a pista do aeroporto das capitais e cheguem às pessoas que vivem em áreas remotas e do outro lado da linha de frente;
  3. Integrem a vacinação contra a Covid-19 a uma estratégia de saúde mais ampla que fortaleça e apoie os sistemas de saúde enfraquecidos por conflitos e investimentos insuficientes; e
  4. Reconheçam o princípio fundamental do Direito Internacional Humanitário que considera a "prevenção de doenças" como um propósito médico, inclusive a aplicação de vacinas, para garantir o acesso a todas as pessoas que vivem em áreas de conflito.

 

Mais informações:

Crystal Wells (inglês), CICV Genebra, + 41 79 642 80 56
cwells@icrc.org